Inspirados e desafiados pelo lema “Coragem! Levanta-te que Ele chama”, milhares de jovens rumaram a várias localidades do interior do país perante a urgência dos tempos que se vivem, para despertar e sair de uma inércia que até aí viviam, mas que, através e com Jesus, conseguem dar o primeiro passo para o encontrar.
Estes jovens são missionários da Missão País, projeto católico de universitários para universitários que tem como objetivo levar Jesus às Universidades e evangelizar Portugal. Estes missionários propõem-se a viver uma semana de apostolado e ação social numa vila portuguesa, tendo oportunidade de se virar para aqueles que mais precisam e para as suas necessidades, tendo uma vivência de oração, evangelização e voluntariado.
A Missão País também está presente na nossa Faculdade e no ano passado inscreveram-se cerca de 36 missionários que rumaram à Vila de Resende, no distrito de Viseu. Estes jovens dividiram-se em vários grupos de voluntários que se desdobraram entre várias instituições da região, nomeadamente a Santa Casa da Misericórdia de Resende, o Centro de Atividades Ocupacionais (CAO), o Lar do Centro Comunitário de São Romão, o Lar de Aregos, o Centro Escolar de Resende, a Escola Básica de Resende e a Escola Secundária Dom Egas Moniz. Paralelamente a isto, um grupo de missionários esteve encarregue, durante a semana, de preparar um teatro que, no final da semana, foi apresentado aos restantes missionários e a toda a comunidade de Resende, que foi sendo convidada durante a semana nos habituais “porta a porta” que os voluntários faziam ao final da tarde. Estes eram momentos de alegria e diálogo intergeracional que serviram para combater a solidão que muitas pessoas desta localidade sentem.
Há muitas questões que ficaram por responder e não há ninguém melhor que os chefes gerais da Missão País FDUP deste ano, Teresa Brito e Faro e Miguel Correia, para nos esclarecer sobre este projeto.
Qual foi o teu primeiro contacto com a Missão País?
Miguel Correia - "Sempre me falaram muito bem da Missão País, antes de entrar na Faculdade já tinha ouvido partilhas de experiências de familiares meus, em missão, que me motivaram a querer, um dia, ser eu a ter aquelas histórias para contar e a poder sentir o que eles sentiram, colocando-se ao serviço. Infelizmente, a minha Faculdade não tinha Missão, então tive de procurar alternativas. Há males que vêm por bem, e acabei por sentir-me muito bem acolhido pela FDUP, que sempre me tratou como mais um de vós."
Como foi organizar a Missão num contexto pandémico e depois de uma edição integralmente online?
Teresa Brito e Faro - "Organizar uma Missão é sempre assustador e desafiante. É por isso que fazê-lo numa equipa de 8 pessoas e com muita orientação da equipa nacional é tão importante. A Missão País 2022, em particular, trouxe consigo o medo acrescido provocado pela experiência de 2021. Foram meses a planear uma semana, cancelada à última da hora com a segunda vaga de Covid. Aprendemos a ter planos A, B e C para todos os cenários e a ganhar uma enorme capacidade de adaptação. Se não podíamos ir para os lares jogar às cartas, de que forma segura é que iríamos animar a semana dos idosos? Se não podíamos entrar em casa das pessoas, como é que nos iríamos aproximar da comunidade? Para além disto, foi pedido aos chefes muita fé e a confiança de que iríamos chegar a Resende em 2022 - que se demonstrou essencial para não perdermos a motivação ao longo da preparação."
Do teu ponto de vista, qual é o impacto da Missão País FDUP na comunidade de Resende?
Miguel Correia - "O impacto da Missão País FDUP na comunidade de Resende é dificilmente transponível para estas linhas. Não há melhor exemplo daquilo que é a marca que deixamos nessas pessoas, que a vontade e desejo que os resendenses têm pelo nosso regresso. O carinho que nos guardaram, quando passados dois anos regressámos a Resende, e a forma como nos disseram que fizemos falta revelam muito o nosso impacto. A disponibilidade com que se apressaram a receber-nos, em tempos de grande incerteza, evidenciam que o nosso tempo lá é de serviço e de entrega. Mas não são só os resendenses que ficam com um pouco de nós, também os missionários levam um pouco de Resende para a nossa vida. Chegar ao Porto e ver que continuamos todos com vontade de servir é reflexo da intensidade da semana que vivemos."
Como é que os missionários têm vivido o Pós-Missão?
Teresa Brito e Faro - "Digo abertamente e sem humildade nenhuma que a Missão País FDUP 2022 está a ter o pós-missão mais dinâmico de todo o sempre na história das missões. Formaram-se amizades de uma vida - encontramo-nos todas as semanas e muitos de nós, diariamente, na Faculdade. No fundo, a Missão começou naquela semana em Resende, mas continua e há de continuar enquanto influenciar a vida dos missionários e das restantes pessoas por eles impactadas."
Como descreverias a vivência da fé católica durante a semana da Missão? Que dirias aos estudantes não crentes que também gostariam de participar?
Miguel Correia - "A fé é essencial para viver a semana da Missão, é no equilíbrio entre a fé e o serviço que podemos viver, ao máximo, os dias em Resende. A verdade é que é facílimo ser Cristão na missão e é muito simples ver Cristo em todas as coisas, já que estamos todos embebidos neste espírito que fortalece a nossa relação com Deus e com os outros. Ainda assim, ser crente não é condição necessária para participar na Missão País. Vários são os casos de pessoas não católicas que foram para a semana sem expectativa nenhuma, e saíram tocadas e transformadas, de uma forma que qualquer crente nunca conseguiria."
Que memória/acontecimento destacarias da Missão País 2022?
Teresa Brito e Faro - "Estão a passar-me demasiadas memórias pela cabeça para selecionar apenas uma como merecedora de destaque, mas vou sucintamente contar o momento de partida de Resende, que me marcou muito nesta Missão. Não é uma longa história: tínhamos o autocarro marcado para às 15h, os missionários estavam prontos à porta às 15h e o autocarro também. Faltavam menos de 15 minutos para as 16h e continuavam as mesmas 40 pessoas a trocar abraços repetidamente e a conversar como se não se vissem há meses, enquanto o pobre motorista esperava para arrancar para o Porto. Foi o único momento em que não quis ser Chefe: ninguém me avisou que ia ter de olhar para caras em lágrimas e dizer “já chega, acabou, tens de ir para casa”. Não foi de todo ideal, e ainda tenho pena do motorista, mas foi um momento catártico que resumiu bem o significado da semana."
Apesar de efémera, esta semana deixou marcas profundas nos missionários da nossa Faculdade que dificilmente serão esquecidas. É estranho falar em conclusão da Missão País 2022, já que a união que ainda hoje os 36 missionários demonstram entre si é prova de que o sentimento de missão permanece vivo. A certeza de que, para o ano, há mais uma edição deste projeto motiva ainda mais os missionários a cultivar esta vivência da fé e de amizade.
Francisco Alberto Carvalho Bom Pereira
Antigo redator do Jornal Tribuna
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