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Foto do escritorAEFDUP

Ode à Ode ou Ode ao Hino

- (1)

Um Soneto de pétalas rosa em fogo

Que me mate por dentro mil vezes

Mas como um Solo passado assim logo

Que limpe a neve dos longos meses

- (2)

Pão do seio e Vinho da Ninfa, nada chega

“O suor do meu peito secará a sua sede”

“Mas só Mel me saciará," assim se verga

"Dêem-lhe do nosso melhor Vinho, logo vede"

- (3)

Assim reluz a vontade nos nossos olhos,

Como a pureza de um trovão violeta

Luzindo no violino, maestro dos orgulhos

Fresco da tequila e quente da menta

-(4)

Como uma Flor modesta no colo da virgem

O Sol levanta-se vermelho das glórias da serra:

Encarnados de terem abraçado o abismo, fingem

A Flor e o Sol não surgirem da dureza da terra

--(5)

Tenros só os pés da Música, porque pousam

Não no chão da terra, mas no coração dos homens

Tocando-se: ouro no bronze, ambos repousam

Pelas promessas do violino, não dos homens

--(6)

Ah! Música, tu que és a ama do céu

Que fazes voar os deuses das nuvens

Faz chover quente Mel e tira-me este véu

Como a puberdade faz às jovens!

-(7)

Rendida perante o amor patrício

Que de ti recebo e por vezes dou

Colas-te em mim como o pior vício

Como Mel em que uma abelha se afogou

-(8)

"Então partilhemos sentadas e só olhando

O que do possível é mais profano,

Como se o calor de todo o ano

Estivesse no som que ia soando!

-(9)

E já não há Ninfas no Tejo,

Juro: fui lá beber e procurar!

Um dia deixaram os peixes de nadar

E assim morreram as Ninfas do Tejo.

-(10)

Já não há o odor das Ninfas na água doce:

A tinta que transborda os versos é de lágrimas,

E há quem conte que a Poetisa que fede rimas

Até talvez escreva da saliva da sua tosse"

- (11)

Um bom poema tem sempre alguma mentira,

Mas "felicidade - Não não: Música, empurra

Trespassa o meu peito gelado, e perdura

Tão aborrecida, tão sem gume: sê a minha lira!"

-(12)

Nunca uma Ode tão ardente e tão pueril

Levou a bengala do pedinte à coroa do rei

Mas tu: Tu Música, deixas até ouro vil

Na tua divina sedução és para o Homem lei!

-(13)

O gelo da razão arrefece o verão da loucura

Mas tu és uma chama sagrada

A que Prometeus tirou a Zeus, com usura

E nas mãos do Homem foi usada como agrada

-(14)

Mas se eu te olhar assim, com baixeza

Então condena-me à fogueira das vanidades

Como todo o Homem que não vê a tua pureza

Vira-me carvão que escreva as tuas vontades!

-(15)

Como uma Titã aprisionada e a berrar

Amores perdidos a paredes ocas

Assim deixas a minha pulsação, a abarrotar

Mais movimentada que todas as docas

-(16)

Sim! Fui eu: fui eu que matei as Ninfas sim!

E tu não falas mas olha como olhas:

Com a reverência de quem te tributa sim!

E por ti queimava do prado todas as folhas!

-(17)

Sim! Fui eu: fui eu que matei as Ninfas sim!

E tu não falas mas olha como me olhas:

Tocas-me e deixo-me tocar, conquistada assim!

O meu Fruto, deixo que tu o colhas

-(18)

Com o vigor do teu verão, uma coroa rosa:

Pétalas rosa em fogo, de uma cerejeira

Assim me deixas, encarnada e chorosa

Dobrada a brotar água doce na ribeira

-(19)

Sim! Eu: eu que matei as Ninfas, sim

Sou eu que chorando faço doce o rio

Mas de ti que te dás quente, e assim

Viras-me Mel fluente do ferro frio

-(20)

Sim! Se é do meu choro que corre o riacho

Então é de ti, Ode, de onde volta o peixe

Volta a viver do Mel que dás, como um cacho

Da Uva mais doce que tinge o Ser, que deixe

- (Fim)


--> ὁρᾶτ' ἑμ', ῶ γᾶς πατρίας πολῖται! Ou: Maria Luís


Poema vencedor do Concurso de Poesia, promovido pela AEFDUP no âmbito da Semana Cultural, em abril de 2022

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