Omar Souleyman é detido na Turquia por acusações de terrorismo
- José Miguel
- 7 de dez. de 2021
- 3 min de leitura
O músico sírio foi alvo de um mandado de captura que culminou na sua detenção em Sanliurfa, cidade onde reside actualmente, perto da fronteira síria. O artista, inicialmente acusado por afiliação terrorista, foi, entretanto, libertado sem acusações.

Omar Souleyman, conhecido mundialmente pelo seu registo musical de influência folk árabe e electrónica, foi detido no passado dia 17 pelo seu alegado apoio a milícias curdas. Segundo o seu agente, o cantor e DJ de 55 anos terá sido submetido a inquérito pelas autoridades turcas devido a relatos que envolviam uma viagem recente ao curdistão sírio, controlado pelo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Na base da sua detenção estaria em causa uma eventual ligação do músico ao "braço armado" do PKK, as Unidades de Protecção Popular (YPG), considerada pelo governo de Erdogan como uma organização terrorista. Muhammed, filho de Omar, afirmou à imprensa que a detenção do pai pode dever-se a uma "denúncia maldosa", visto que afirma que o músico não tem qualquer tipo de afiliação política. O artista sírio acabou por ter sido libertado depois de passar dois dias preso.
Este incidente foi visto por parte da comunidade árabe como mais um ataque do regime turco às liberdades políticas do povo curdo e à sua causa de auto-determinação.
Após um cessar-fogo de dois anos terminado em 2015, os confrontos entre curdos e militares turcos têm vindo a intensificar-se. A detenção e prisão de membros do PKK é algo recorrente na Turquia e é alvo de contestação, já que é defendido que este fenómeno constitui um grave ataque aos direitos e liberdades dos próprios cidadãos por parte de Ancara.
A luta armada pela autonomia e os direitos civis e culturais dos curdos entre grupos para-militares insurgentes e o Estado da Turquia dura desde 1978, data de formação do PKK. A organização revolucionária actua a partir de território curdo no Iraque, na Síria e também na Turquia. Devido a esta particularidade, o exército turco desenvolveu diversas operações transfronteiriças de forma a travar o crescimento destes grupos organizados.
Desde o início do conflito, há a registar cerca de 40,000 mortos, a grande maioria civis curdos.
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos chegou a condenar o Estado turco por milhares de crimes contra a humanidade, entre eles estão a execução de civis, a destruição de povoamentos, tortura, prisões arbitrárias e o assassinato de jornalistas e activistas curdos.
Omar Souleyman, um símbolo do pan-arabismo
O artista originário de Tell Tamer, uma pequena vila do nordeste sírio próxima da fronteira turca, mudou-se para o país vizinho desde o começo da guerra civil na Síria, em 2011. Foi aí que começou a sua padaria, negócio que mantém até aos dias de hoje. No entanto, o músico revela que ainda se sente muito próximo da sua pátria síria, à qual dedica o seu álbum de 2017, “To Syria With Love”.
Omar é um árabe sunita e enfatiza que se deixa influenciar pela diversidade de onde vem, que inclui culturas como a síria, a curda, a iraquiana e até a turca. Foi em 1994 que o músico começou a sua carreira como um cantor em casamentos (actividade que está presente no videoclipe da música "Ya Bnayya", onde é possível ver a sua actuação no casamento do seu filho). A musicalidade bastante distinta do artista sírio foi importada para o mundo Ocidental onde já actuou em diversas ocasiões pela Europa e América do Norte, incluindo na cerimónia de atribuição do Prémio Nobel da Paz, em 2013.
O músico marcou ainda presença em Portugal por duas vezes, em 2011, no festival Paredes de Coura, e em 2018 no Festim. Omar tem uma vasta discografia e conta com colaborações com artistas como Björk, bem como milhões de visualizações nas diversas plataformas digitais.
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