Os estudantes enquanto força-motriz em matéria de sustentabilidade ambiental
- Jornal Tribuna
- há 3 dias
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O conhecimento transforma, move e derruba. Haverá lugar de maior edificação do saber, sem que se nos ocorram à memória, de forma quase imediata, as instituições de ensino superior? Num paralelismo com as crises ambientais que pintam o cenário global, parece-me evidente que o papel dos estudantes universitários constitui “pedra-angular” na tarefa de reduzir ou mitigar os problemas ambientais e promover a sustentabilidade, beneficiando não apenas as gerações atuais, mas também as gerações futuras.
Numa primeira abordagem, pautados pela inovação e olhar atento que o ensino demanda, mas também pela inércia de alguns líderes mundiais, muitas foram as vezes em que os jovens reuniram esforços e procuraram alertar para o grave problema que assola a conjuntura mundial: as alterações climáticas. Isto posto, alguns movimentos surgiram, nomeadamente, o Youth for Climate e o Fridays for Future, constituídos por jovens ativistas empenhados em alertar para os perigos irreversíveis associados às alterações climáticas, impulsionar a mudança célere de comportamentos e pressionar os governos mundiais nas suas políticas, em prol de uma economia mais verde. Já a nível nacional, no ano de 2019, milhares de estudantes de todo o país protestaram pelo clima, na primeira Greve Global pelo Clima; em 2023, um grupo de alunos da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa montou tendas no interior da faculdade, exigindo o fim ao combustível fóssil até 2030. Por último, em concordância com os movimentos internacionais, é criado o grupo Jovens pelo Clima, pressionando à transição energética.
De facto, os jovens, em geral, revelam-se uns dos protagonistas nesta luta comum, verdadeiros agentes de mudança, contribuindo, a par e passo, para a concretização e efetivação da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, estabelecida pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Esta aliança entre a juventude e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que da Agenda 2030 fazem parte, revela-se fundamental. Destacam-se, nesta matéria, os ODS 7 (“Energias renováveis e acessíveis”), 13 (“Ação climática”) e 15 (“Proteger a vida terrestre”).
Cumpre encontrar resposta à seguinte questão: o que motivará os jovens, em grande medida os estudantes universitários, a levar esta causa tão perto do peito, tornando-a tão sua, tão nossa?
Efetivamente, a necessidade de estar permanentemente atualizado e a par dos “sobressaltos” sociais insta, porventura, ao progresso, já que permite que se abram portas a uma maior consciencialização e, sobretudo, empatia pelos desastres naturais que ameaçam a nossa curta estadia no planeta. Assim se planta a semente da mudança.
Além disso, e particularizando no curso de Direito (não se restringindo a este), inúmeras são as vezes em que o nosso programa curricular suscita estas questões, movendo-nos a enquadrá-las juridicamente e, sobretudo, a pensar sobre elas. Não só o programa curricular, mas também conferências recentes que tiveram lugar na nossa faculdade, que introduzem temas, como os fatores Environmental, Social and Governance (ESG) que, como o nome sugere, traduzem-se em indicadores que medem o empenho das empresas na sustentabilidade, motivando-as a aliar os seus interesses económicos com as políticas ambientais. Numa palavra, conseguimos, com menor esforço, ter um contacto constante e aprofundado, de modo claro, com os problemas, as respetivas causas e as soluções, o que leva a que muitos se unam e consigam, com a sua voz que ecoa, chacoalhar as estruturas. Isto, conjugado com a criatividade própria da idade e o espírito inovador, só permitem concluir que a juventude é parte da engrenagem que faz o mundo girar, especialmente no que à proteção do ambiente concerne.
Exemplo do referido é a “Último Recurso” - a primeira ONG portuguesa a utilizar mecanismos legais para responsabilizar as empresas e o Governo, por cada vez que colocam em cheque a missão de preservar os últimos recursos naturais. Criada em 2022 por uma estudante da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, movida pela causa ambiental e a promoção da sustentabilidade, esta organização é mais um daqueles inúmeros casos que refletem a ousadia dos jovens em pressionar, abalar e influenciar outros tantos, por forma a que todo o esforço logre resultados.
Em jeito de conclusão, também eu apelo à mudança comportamental, por sentir que, não obstante muito tenha sido feito, a tarefa está longe de estar concluída. Um problema transfronteiriço exige esforços mútuos e reforçados, pelo que, por sermos parte do problema, podemos ser parte da mudança. Por isto, a nossa geração, inquieta e inconformada, dada a sua reputação em matéria ambiental, poderá ser a força propulsora para a transformação, capaz de deixar um legado positivo para as gerações vindouras. Que assim seja!
Diana Pinto
Departamento Mundo Universitário
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