A degradação das instituições
Vivenciamos atualmente uma conjuntura marcada pela demissão do Primeiro-Ministro e a consequente queda do governo, por um Presidente da República envolvido em controvérsias e por um sistema de justiça completamente desacreditado pelos megas processos. À medida que nos aproximamos rapidamente do 25 de abril, possivelmente a data mais significativa da história portuguesa, é inegável que os alicerces democráticos portugueses, ou mais precisamente, os instrumentos pelos quais a democracia opera, estão a sofrer uma deterioração preocupante.
Diante deste cenário, emergem indivíduos com um complexo messiânico que se dizem “incansáveis no propósito de mudar Portugal”. A questão que se coloca neste momento parece, a meu ver, bastante simples: por quanto tempo os portugueses suportarão a decadência das instituições antes de optarem pelo caminho aparentemente mais fácil?
André Góis
Departamento Fazer Pensar
(In)justiças com o clique de um botão
O final do ano traz consigo mais uma Maratona de Cartas da Amnistia Internacional. De um conjunto de casos todos merecedores da nossa atenção, destaca-se o de Maung Sawyeddollah, um rapaz pertencente à minoria étnica dos Rohingya, que recentemente foi alvo de perseguição genocida no Myanmar. Dum campo de refugiados onde habita há 6 anos, Sawyeddollah procura justiça por todos aqueles que sofreram perseguição, fazendo campanha para que o Facebook seja responsabilizado pelo seu papel nas atrocidades cometidas, nomeadamente pela sua divulgação de conteúdo anti-Rohingya e incitamento à violência.
Temos agora a oportunidade enquanto cidadãos (e enquanto consumidores) de responsabilizar o algoritmo pela sua cumplicidade invisível no incitamento à violência. Iremos finalmente começar a discussão urgente sobre o poder que as plataformas por trás dos nossos ecrãs têm, e sobre a tão necessária regulamentação do espaço digital?
Manuel Brito e Faro
Departamento Fazer Pensar
Rizz e Taylor Swift: o final de 2023
Ao aproximar-se o final do ano cada um faz a sua própria avaliação do melhor e pior que lhe aconteceu, relembra os melhores momentos através de fotografias no telemóvel e tenta esquecer-se ou dar menos importância aos momentos menos bons. É normal também verificar-se uma retrospectiva em termos de palavras e figuras marcantes.
Segundo a Oxford University Press, a palavra do ano é Rizz, que se pode definir como charme ou atratividade, ou ainda a capacidade de atrair um potencial parceiro romântico ou sexual.
Já a pessoa do ano, para a revista Times, trata-se da one and only Taylor Swift. A cantora foi, no mês passado, declarada bilionária, a sua regravação do álbum “1989” foi o disco mais vendido este ano nos Estados Unidos e os bilhetes para os concertos da sua tour estão completamente esgotados e a quebrar recordes.
Penso que esta análise é interessante e divertida, e num período que não se tem marcado especialmente pela leveza, convém, por vezes, darmos atenção a pormenores mais simples e “insignificantes”.
Inês Gomes Barbosa
Departamento Fazer Pensar
“Um por todos, todos por um”
No passado dia 7, António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, invocou o artigo 99.º da Carta das NU, exortando ao Conselho de Segurança que não poupasse esforços para pressionar por um cessar-fogo humanitário em Gaza. O pedido foi feito a par com o projeto de resolução, da autoria dos Emirados Árabes Unidos, que manifestava preocupação com a situação humanitária catastrófica, sublinhando que “as populações civis palestinianas e israelitas deveriam ser protegidas de acordo com o Direito Humanitário internacional”, exigindo, por isso, um cessar-fogo imediato, a libertação incondicional de todos os reféns e a garantia de acesso humanitário.
Esta resolução foi apoiada por dezenas de Estados-membros, mas foi rejeitada com o veto dos EUA, que justificaram o mesmo por considerarem que a resolução era “desequilibrada” e que não aceitava “incluir linguagem a condenar o ataque terrorista horrível do Hamas a Israel”.
O Conselho de Segurança é o único órgão internacional cujas deliberações, relativamente à manutenção da paz e da segurança internacional, são vinculativas. Devem as suas decisões continuar a depender do voto de somente 5 Estados permanentes – os mesmos desde a sua criação, há quase 80 anos, sem atender a qualquer evolução geopolítica? E até quando continuarão os EUA a harmonizar a sua atuação internacional com os próprios interesses político-económicos, desvalorizando violações do Direito Internacional – ou valorizando apenas as que os afetam diretamente? As únicas certezas que temos, após esta “altruística” votação, é que os 7 700 mortos e 48 780 feridos em Gaza só virão a aumentar, e os 138 reféns israelitas continuarão em cativeiro dos Hamas.
Maria Duarte
Departamento Fazer Pensar
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