Porque se falta às aulas na FDUP?
- Guilherme Alexandre
- 21 de abr. de 2023
- 4 min de leitura
Ainda que faltar às aulas seja principalmente motivado por desinteresse nos conteúdos e nos docentes (47,5%), têm ainda relevância a dificuldade de - e tempo para - acesso à faculdade por força da distância e baixa cobertura de transportes, o associativismo, a boémia e a falta de integração dos estudantes.
Serão as aulas essenciais para o sucesso dos estudantes de Direito e Criminologia na nossa faculdade? Em todo o caso, porque é que faltamos às aulas?
Partilho aqui algumas considerações do inquérito (https://forms.gle/wHETAFSzw84rxnuv5) com mais de 150 respostas de estudantes e alumni, ao qual podes ainda responder, sabendo que a informação será partilhada com a Associação de Estudantes para melhor compreender as necessidades da comunidade estudantil.
Estabelecendo um ponto de partida para esta reflexão, vejamos as respostas relativas à frequência das aulas.

A pedagogia, a docência e os conteúdos
Parece ser geral a opinião de que a maioria dos docentes não possui uma capacidade adequada de exposição da matéria. Alguns estudantes descrevem as aulas como aborrecimento, enquanto que outros dizem não conseguir acompanhar o ritmo das aulas. Para alguns, as aulas são ditados dos manuais ou “leitura de slides” - mesmo as práticas - e há quem acrescente que os “docentes [são] mal preparados, incapazes, não produtores de doutrina e, diria mesmo, meros autómatos de doutrina alheia” e que as aulas de alguns professores são “10% conteúdo, 90% historinhas”.
“Os professores gostam tanto de dar aulas como os alunos gostam de as ir assistir, portanto desmotivamo-nos uns aos outros.”
Distância-tempo à faculdade
Este fator revelou-se também notável, especialmente por surgir várias vezes sem ter sido uma opção. O tempo consumido em deslocações, o seu efeito no tempo disponível para o descanso, as imprevisibilidades dos transportes públicos e greves dos mesmos foram citados como problemas que, inseridos no cálculo quotidiano de custo-oportunidade, fazem vários estudantes deixar a frequência das aulas para um futuro que sempre se adia.
“Demoro cerca de 2h30 em viagens para ir a faculdade para, muitas vezes, ter 2 aulas ou 3, que muitas vezes não compensam o tempo perdido em viagens"
Boémia e associativismo
Perante a questão “Quando faltas, faltas a uma ou algumas UC em particular ou depende de fatores externos à matéria/docentes?”, 13,3% dos inquiridos apontaram preferir ocupar o seu tempo no bar da Associação de Estudantes e 5% referiu a participação em associações e grupos académicos.
A par destas opções, surgiram comentários sobre a influência dos pares na frequência às aulas: existe maior tendência para ir às aulas se os amigos forem, e vice-versa.
“Essencialmente, tenho muita coisa para fazer a nível associativo. Isso acaba por se misturar com o facto de os meus colegas também faltarem, o que leva a que nunca tenha motivo ou vontade para ir.”
Integração dos estudantes - e o caso dos estudantes internacionais
Não sendo o fator mais significativo em termos absolutos, não merece por isso menos preocupação. Cito algumas respostas entristecedoras sobre a (não) integração de vários estudantes, e, em particular, de estudantes internacionais.
“Eu não tenho amigos, os alunos da turma não são muito simpáticos/amigáveis aos estudantes estrangeiros.”
“Falta de motivação e porque tenho 0 amigos na faculdade. Entro e saio sem falar com ninguém, vão fazer 4 anos assim.”
“(...) não ter muitos amigos na faculdade faz-me querer ir menos.”
“Não me sinto bem na faculdade.”
Num contexto social de crescente preocupação com a saúde mental, é importante olharmos ao nosso redor e estarmos atentos aos outros. A integração e a amizade devem ser fins em si mesmos, mas relevam ainda pelo seu peso na motivação académica.
Incompatibilidades horárias
Além das razões supramencionadas, existe, claro, o caso dos desportistas federados e estudantes-trabalhadores e a dificuldade da faculdade em os acomodar em termos de horários, além do cansaço que lhes é imposto pela sua atividade.
Foram também recebidos alguns comentários relativos à impossibilidade de frequentar UCs de anos diferentes (para quem não foi aprovado a alguma) devido a aulas sobrepostas.
Avaliação distribuída
Mais de 60% dos inquiridos de Direito inscrevem-se na modalidade de Avaliação Distribuída quando esta é uma opção, mesmo que esta implique presenças obrigatórias. Apesar das críticas que fazem às aulas, reconhecem os benefícios de modalidades de avaliação mais inovadoras, da possibilidade de diluir o peso dos momentos de avaliação e de realizar testes fora da época de exames.
Ainda assim, quando colocados perante a questão “Achas que se as aulas fossem obrigatórias o aproveitamento do ensino na FDUP seria melhor?”, apenas 9,5% respondeu afirmativamente, enquanto que 25,3% considera que tal só seria vantajoso no contexto de aulas práticas.
Sebentas e apontamentos semanais
As sebentas e apontamentos semanais disponibilizadas pelas Comissões de Curso são uma ferramenta importante de apoio ao estudo, especialmente para quem é trabalhador-estudante ou, por qualquer motivo, não tem real possibilidade de frequentar as aulas. Além disso, sumarizam, explicam e organizam os conteúdos lecionados e a bibliografia obrigatória, contribuindo para a aprendizagem.
As respostas ao inquérito mencionam estas ferramentas como motivo pelo qual vários estudantes se sentem menos obrigados a frequentar as aulas, argumentando que o estudo pelas sebentas e bibliografia é significativamente mais produtivo.
“[A maioria dos estudantes] não está para perder duas horas de vida quando em vinte minutos pode ler a sebenta.”
“Falto quando acho que aquela aula com aquele docente não me vai acrescentar nada para além do que já posso ler numa sebenta bem feita.”
Conclusão
Das várias inferências que se podem retirar deste estudo, realço a mais consensual: os estudantes não estão satisfeitos com o plano de estudos e a forma como este é abordado pelos docentes, o que os leva a preferir outras formas de estudo e de ocupar o tempo.
Além disso, é importante refletir sobre a integração de todos os estudantes, independentemente do seu estatuto estudantil, origem ou características, assim como no uso mais produtivo das ferramentas de estudo pelas quais todos somos gratos.
Guilherme Alexandre
Departamento Mundo Universitário
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