Portugal e a sua primeira Escola Feminista: A Luta Pela Igualdade Continua!
- Maria João Pereira
- 5 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
“Queremos que percebam que são feministas exatamente por serem a favor da igualdade de género e que o feminismo é uma atitude perante a vida, uma forma de imaginar um outro futuro, um futuro mais igual, mais justo, mais solidário” para “homens, mulheres e pessoas não-binárias”, afirmou Marta Martins, uma das fundadoras da primeira Escola Feminista em Portugal. Que se assista, e que se continue a lutar, uma vez mais, assim espero, ao desenvolvimento de competências necessárias para a promoção e alcance da tão esperada igualdade pela qual lutamos há décadas.
Marta Martins e Valquíria Porto da Rosa são os rostos principais da primeira Escola Feminista, em Portugal, situada no Largo Residências, em Lisboa, intitulada “manamiga”, e inaugurada, no passado dia 19 de abril. Um dos (vários) pontos positivos da mesma é a sua flexibilidade, na medida em que os cursos e formações que proporciona, tanto são executados a nível presencial, como a nível online. Deste modo, qualquer pessoa pode usufruir das ofertas formativas desta escola, independentemente da sua região. Além disso, esta escola é destinada a qualquer pessoa que tenha interesse em saber mais sobre o Feminismo, sobre o objetivo do mesmo, sobre as desigualdades ainda presentes, a fim alcançar uma sociedade mais justa e igualitária. Após uma visita ao site da Escola, é possível aferir informações relativas, não somente às fundadoras, ao objetivo deste projeto e aos contactos, senão também aos cursos que estão, neste momento, prestes a iniciar e a cursos cujas informações necessárias serão reveladas brevemente.

O Feminismo sempre foi alvo de muitas críticas. Quase como se a própria palavra, ou ouvir alguém intitular-se como “feminista”, representasse um temor generalizado. Talvez pelo desconhecimento, ainda presente, do fenómeno; ou talvez pela intimidação que o mesmo pode causar. Dizer incisivamente, “sou feminista” nunca deveria ser alvo de censura. Todavia, por vezes, é. Por este motivo, é necessário relembrar que o movimento feminista – ou os vários movimentos feministas e as suas várias ondas –, cujas raízes nos remetem para o passado século, tem como objetivo atingir a igualdade de género, em sociedade, nos vários ramos possíveis. Isto porque, sabemos que sempre existiram disparidades protuberantes entre o género masculino e o género feminino. A desigualdade salarial representa apenas a ponta do iceberg. Se analisarmos o Boletim Estatístico de 2022, da CIG, verificamos que à medida que aumenta o nível de habilitação das mulheres, maior a diferença salarial para com os homens: apesar de, em 2021, em cada 100 pessoas com o Ensino Superior completo, 61 serem mulheres e 31 serem homens, estas ainda continuam a ganhar menos 25,9% que os homens. Apesar desta larga representação no Ensino Superior, tal continua a não ser visível em determinadas situações: primeiramente, a taxa de desemprego continua a ser mais elevada nas mulheres, com um valor de 52,1% contra 47,9% nos homens; a nível político, em Portugal, em 2022, com as eleições para a Assembleia da República, as mulheres passaram a representar 37% de todos os deputados da Assembleia, o que se traduziu numa diminuição face a 2019 (em que as mulheres representavam 38,7% dos deputados); o trabalho doméstico ainda permanece extremamente associado à mulher, estando 97% das mulheres em contexto de trabalho doméstico e apenas 3% de homens na mesma situação. Por este motivo, muitas mulheres não estão ativamente à procura de emprego, pela imposição, por parte da sociedade, da premissa de que é dever exclusivo da mulher cuidar do lar e dos filhos. A nível criminal, em 2022, a Violência Doméstica aumentou 15% face a 2021, em que 74% das vítimas eram mulheres e 80,2% dos ofensores eram do sexo masculino. Até quando seremos assim tratadas?
Como se combate todos estes factos? É possível, ainda, combater? Prefiro ser otimista e dizer que sim. Tal só é possível através da permanente luta pela igualdade. Tal só é possível através da fomentação de ações de sensibilização, desde as camadas mais jovens, da formação de profissionais de vários setores, de modo a permitir desmistificar papéis de género encerrados na sociedade e que insistem em perdurar e a limitar a vida de meninas, mulheres, ao longo da sua vida. Assim sendo, não me poderia orgulhar mais por pensar, e dizer, que, o meu país, tem, por fim, a sua primeira Escola Feminista! Uma escola cujo intuito é este mesmo: combater a desigualdade através da informação e do conhecimento.
Maria João Pereira
Departamento Fazer Pensar
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