A corrente experiência académica exige bastante do aluno, sendo precisas longas horas de aula, estudo e até de trânsito para se ser bem-sucedido, o que será diametralmente oposto à atual cultura de gratificação instantânea e de instabilidade socioeconómica.
Estranhamente, no meio disso, sabemos que temos algo com que podemos contar… Uma refeição de bom valor nutricional, a um preço razoavelmente imbatível, numa cantina perto do respetivo campus universitário!
Em termos meramente materiais, o tribulado quotidiano é atenuado por não se ter de pensar sequer em arranjar uma refeição, que, certamente, seria muito menos “em conta” e nutricionalmente incompleta do que a garantida no refeitório, mesmo que essa, por vezes, seja menos glamorosa. Aliás, no caso da nossa Faculdade, a não requisição de marcação prévia apenas aumenta esta facilidade lógica na escolha a tomar.
Sociologicamente, e sem querer apelar muito às nostálgicas conotações da “pressa juvenil para chegar a uma fila, que se desloca a passo de caracol, de forma a entrar na terminal via que se pretenderia rápida, com o intuito final de se esperar obter um bom prato que deveremos guiar até um dos prediletos lugares de escolha”; o ritual do arquétipo almoço estudantil é algo que ainda poderá ser útil a umas quantas gerações vindouras…
Todos nós desejaríamos que essa ação demorasse menos tempo, porém não só o ocasional aborrecimento pode ser benéfico, como existe uma oportunidade de convívio inter pares; não houvesse algo numa experiência vividamente partilhada que algum ato singular possa esperar superar, mesmo neste tão mundano contexto.
Esse hábito, ao ser criado, acaba por dar uma sensação de pertença, quiçá, à própria abstração da conhecida comunidade académica, com o provável aumento do círculo de conhecidos e de amizades pelo caminho. E claro que cada um deve e, sem dúvida, é incentivado a desenvolver as suas próprias rotinas. No entanto, não me ocorre algo mais tipicamente inclusivo do espírito académico do que uma cantina com boas energias, como empiricamente provado por uma passagem em tais estabelecimentos.
Quem nunca experimentou que experimente, quem é um assíduo conhecedor que consiga variar de vez em quando, e quem simplesmente não quer racionalizar tal escolha é livre de o fazer.
A questão é fazer “disto” interessante, não só individualmente, mas coletivamente; ter espírito reivindicativo, certo, mas atencioso, também; um deixar-se fascinar pela quantidade inimaginável de formas de como o amanhã pode ser melhor, principalmente, a nível de saúde mental, algo para o qual somos cada vez mais alertados para o facto de não estar particularmente bem no Mundo Universitário… E tentar alimentarmo-nos bem e em boa companhia faz maravilhas à saúde física e mental: os requisitos se queremos estar atentos às aulas e ao estudo, e até ao mero passar do tempo no trânsito.
Enfim, a cantina, enquanto espaço de reunião e convívio que promove comportamentos saudáveis ao próprio subconsciente do aluno, com o desiderato de maior igualdade possível nesse contexto, é um meio que não pode ser negligenciado relativamente ao seu possível aproveitamento para cada membro estudantil nos seus anos formativos de rápida passagem.
José Pedro Carvalho
Departamento Mundo Universitário
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