Num dia de agosto aterrei numa cidade de bares em ruínas e esta é essa história.
Este conceito abstractamente construído e concretizado é quase tão antigo como eu, nascido nos anos 2000, já conta com 20 anos de história e é um dos marcos da vida nocturna húngara.
Localizados um pouco por toda a cidade, os ruin bars têm especial presença em antigos edifícios abandonados no Budapest’s Jewish District (o sétimo distrito), informais e elegantemente arruinados, oferecendo um sentimento de pertença e comunidade a qualquer um que lá entre.
Foi o Szimpla Kert que lançou o mote para toda esta cultura. Nascido de um edifício salvo da demolição por um grupo de visionários que, querendo abrir um bar/espaço comunitário, decidiram, ao invés de remodelarem o espaço para mais um bar moderno, juntar mobiliário numa disposição pouco convencional com peças e decoração de diferentes origens e estéticas, criando uma harmonia não expectável num espaço outrora destinado à ruína.
A aposta foi um sucesso e o modelo para uma nova geração de bares. Um atrás de outro, edifícios à beira de colapso foram reabilitados e destinados ao mesmo fim. Acessórios bizarros como banheiras, carros, guitarras penduradas, caixas, caixotes, molas de colchões começaram a aparecer e a pertencer como se nunca tivessem tido outra utilidade. À noite, corredores com cabos de luzes coloridas por todo o lado, que não aparentam ter nada que se assemelhe a um plano de acção que os organize, iluminam estes espaços e as suas zonas exteriores (pequeno facto sobre aquilo que percebi ser arquitectura húngara clássica, quase todos os edifícios são construídos com um claustro exterior no centro que serve todos os andares e apartamentos de quem aí reside, especialmente úteis nestes bares para as absurdamente quentes noites de verão em Budapeste).
Não descurando do seu papel recreativo na vida nocturna húngara, os ruin bars também oferecem um espaço para as atividades da comunidade, sendo comum albergarem farmer’s markets semanais ou projetarem filmes para todos os que estejam interessados.
Contudo, o tempo não para e os ruin bars também não. Este conceito, que preza pela indefinição, transforma-se a cada dia e, cada vez mais, novas ramificações parecem surgir, como o Mazel Tov que se dedica à cozinha do médio oriente, ou o Fogas Haz, e até mesmo o Red Ruin, inteiramente dedicado a uma temática soviética.
Em ruínas está tudo, menos a popularidade destes bares que cada vez mais domina a vida nocturna da cidade. Não vou acabar com “comprem a correr um bilhete para esta cidade e visitem um”, a pandemia não me o permite, mas fica a interessante história e a forte recomendação para um futuro em que isso seja já possível.
(Nota: este artigo foi escrito com base no antigo acordo ortográfico.)
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