Terminada mais uma época de exames, cabe ao Jornal Tribuna, enquanto jornal que dá voz aos estudantes, refletir sobre este período, por constituir um dos temas mais importantes de todo o percurso académico.
A saúde mental continua a reinar enquanto tópico mais discutido no Ensino Superior, consequência do decréscimo sentido pela comunidade estudantil no seu bem-estar durante o período de exames. Segundo os dados recolhidos pela Federação Académica do Porto [1], cerca de 79% dos 1218 estudantes inquiridos sentiram um declínio na sua saúde mental ao longo do 1º semestre, que foi piorando à medida que se aproximavam as épocas de avaliação. Por mais que se reconheça a normalidade da pressão associada aos momentos de avaliação, que, aliás, se reflete de outros modos ao longo da vida profissional, há certos aspetos que se entende serem completamente questionáveis.
Um dos principais problemas desta época de exames, à semelhança das antecedentes, continua a ser o enorme peso do exame final para a avaliação da maioria das unidades curriculares. Relativamente à metodologia de avaliação, a comunidade estudantil reconhece a necessidade de uma inovação, no sentido de fasear os momentos de avaliação e de abandonar esta ideia antiquada de que colocar o estudante perante um exame escrito de 2 horas permite avaliar os seus conhecimentos e aptidões.
Quanto à avaliação faseada, são discutidos os seus muitos benefícios, sobretudo o de permitir uma aprendizagem mais consolidada. O entendimento é que métodos como as frequências, trabalhos escritos, apresentações orais e moot courts são extremamente benéficos para a consolidação das aprendizagens, e para o desenvolvimento das capacidades jurídicas. A componente oral também merece uma reflexão, visto que alguns estudantes revelam que, quando se encontram num exame oral, não sentem que têm as capacidades necessárias para se expressar em termos jurídicos, consequência do teor demasiado teórico e unilateral das aulas que não permite que as desenvolvam.
Também as datas dos exames, que têm início na primeira semana de janeiro, contribuem para esta visão pessimista, por parte dos estudantes da época de exames, e a razão prende-se com a sua proximidade com a época natalícia e de fim de ano, festividades associadas a momentos familiares e de socialização, e que talvez por isso não serão aproveitadas da forma devida. Além disso, aqueles que são deslocados sentem a dificuldade de conciliar o estudo com todas as necessidades que as mudanças e deslocações para o Porto implicam.
Um outro problema, que importa igualmente referir, prende-se com o prolongamento dos exames orais, visto que a sua maioria costuma ser marcada para datas já coincidentes com o início das aulas do 2º semestre. Isto explica o facto de os estudantes sentirem que não têm a oportunidade de iniciar corretamente o semestre, dado que acabam por faltar às primeiras aulas e a atrasar o período de estudo dos novos conteúdos. Além disso, também sentem as consequências da falta de férias, essenciais para o início de um novo semestre.
Desta pequena reflexão retira-se a necessidade de continuar a colaborar com a comunidade estudantil no sentido do aperfeiçoamento da época de exames, de forma a promover o sucesso académico e a saúde mental dos estudantes. O estudante nunca se deverá encontrar numa situação em que tenha que optar por uma destas duas vertentes: a sua saúde mental ou o seu sucesso académico, porque são dois elementos que devem andar sempre de mãos dadas.
Ana Picado
Departamento Mundo Universitário
[1] Inquérito de 8 de janeiro de 2024 - https://fap.pt/noticias/resultados-do-inquerito-epoca-de-avaliacao-na-academia-do-porto-e-os-seus-impactos-na-saude
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