Sarah Everard: não é uma num milhão
- Beatriz Costa
- 17 de mar. de 2021
- 3 min de leitura

Centenas de pessoas juntaram-se, em Londres, numa vigília em memória de Sarah Everard. A Polícia Metropolitana de Londres está a ser alvo de várias críticas depois de ter usado violência na vigília.
Sarah Everard tinha 33 anos quando foi dada como desaparecida, no dia 3 de março, enquanto ia para casa a pé, durante a noite. O seu corpo foi encontrado uma semana depois numa floresta em Kent.
O caminho percorrido por Sarah de Clapham Common até Brixton é conhecido por ser uma das partes mais iluminadas, bem frequentadas e seguras da capital. Centenas de pessoas, incluindo jovens mulheres, percorrem esse trajeto todos os dias, muitas vivem nas redondezas dele, segundo o BBC News.
Tendo a caminhada se tornado um dos principais passatempos com a pandemia, as mulheres britânicas começaram a sentir um medo acrescido de sair de casa. Grupos online por todo o mundo trouxeram para a ribalta o quão vulnerável é ser-se mulher e muitas deram os seus testemunhos pessoais de como também foram alvo de assédio, perseguição e violência, enquanto andavam sozinhas na rua.
Wayne Couzens, 48 anos, oficial da Polícia Metropolitana de Londres, no comando de proteção diplomática e principal suspeito do rapto e assassinado de Sarah Everard, foi preso no início do mês e aguarda julgamento.

Protestos tomaram lugar em Londres depois de descoberto que Wayne Couzens, membro da força policial, é o possível responsável pelo assassinato. A vigília de sábado à noite tornou-se um espaço simbólico para todas as mulheres que também foram vítimas de violência machista. Relembraram-se de que independentemente do que vistam, do que bebam e com quem estejam, nunca estão completamente seguras. Sarah Everard tomou todos os cuidados, escolheu o caminho mais longo e seguro, vestiu roupas largas e desportivas, tinha telefonado ao namorado para a acompanhar pelo caminho. Não chegou. Um membro das forças protetoras raptou-a e assassinou-a. Foram também membros da força policial que terminaram a vigília com violência e brutalidade. Tinha sido, até aí, um protesto pacífico com velas, flores e cartazes que apelavam à reflexão: “Não nos vão calar”; “Estava só a voltar a casa”. Um encontro solidário entre várias mulheres que foram também vítimas de violência machista. Depois destes acontecimentos a indignação e descrença para com as forças policiais prevaleceu.
A Chefe da Polícia MET diz que não se vai resignar e que se encontra “mais determinada” para liderar a sua equipa (BBC NEWS). Justifica que a vigília se tratava de um “ajuntamento ilegal” e que para o terminar, a sua equipa viu-se obrigada a intervir: "Quite rightly, as far as I can see, my team felt that this is now an unlawful gathering which poses a considerable risk to people's health".
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, também já se pronunciou sobre os últimos acontecimentos e mostrou a sua preocupação em relação à repressão policial na vigília: “The death of Sarah Everard must unite us in determination to drive out violence against women and girls and make every part of the criminal justice system work to protect and defend them.”
Porque o assédio e a violência acontecem em qualquer parte do mundo. Em Portugal, 30 mulheres foram assassinadas pelo seu opressor, só no ano de 2019. Uma aluna do 2º de Direito contou-nos que o terror agora vivido em Inglaterra, é também sentido por si e pelas suas companheiras nas ruas do Porto, "É impossível sair no porto sem ser assediada mais do que uma vez. Os homens falam connosco, alguns tentam tocar-nos e não vêem nenhum problema nisso. Uma vez fui assediada e quando os meus amigos responderam para me defender, os dois homens bateram-lhes. Acham que é o direito deles tratar-nos assim."
Outra colega do 4º ano diz não sair de casa sem um canivete suíço na carteira: “Um dia à noite estava a caminhar para casa sozinha. Tinha apanhado o último metro, tinha um andar apressado porque estava atrasada. Nisto fui abordada por uma mulher que me garantiu que "não precisava de ter medo e que não me faria mal.”
À noite uma mulher apressada na rua, será sempre um sinal de medo, o mundo é assustador. Enquanto mulher, tenho sempre um canivete suíço na carteira. Nos dias em que me sinto mais confiante no que tenho vestido, vejo a minha confiança a ser destruída por homens na rua.”
Sarah Everard não é uma num milhão. Acontece também aqui, no Porto, na nossa rua, com a nossa colega. Infelizmente, como Sarah Everard, ter todos os cuidados não é suficiente e não a salvou. Por isto e por muito mais, as mulheres têm reivindicado uma reforma no sistema judicial que se tem mostrado, por várias vezes, ineficaz contra estes acontecimentos.
"Queremo-nos Livres, Vivas e sem medo”

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