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Seleção Feminina de Portugal: O Talento Que Merece Mais Do Que Silêncio

  • Foto do escritor: Jornal Tribuna
    Jornal Tribuna
  • 21 de abr.
  • 3 min de leitura

Enquanto a atenção do país permanece  focada nos feitos da Seleção Nacional Masculina de Futebol, com Cristiano Ronaldo como figura central, estádios cheios e transmissões em horário nobre, a Seleção Feminina de Futebol prossegue a sua caminhada (praticamente) em silêncio, apesar do talento evidente e da evolução notória, nos últimos anos.


Em campo, as jogadoras portuguesas têm provado que merecem muito mais do que o papel secundário a que são, constantemente, relegadas. Fora dele, lutam diariamente pela visibilidade, pelo investimento e pelo respeito, sendo estes valores e pilares que deveriam ser garantidos, sem mais, a qualquer equipa que representa as cores nacionais.


Duas seleções, dois mundos

A disparidade entre o tratamento proporcionado à  seleção masculina e  feminina é gritante. Quando a equipa liderada por Roberto Martínez se encontra dentro das “quatro linhas”, o país para: cada treino é acompanhado pelos media, cada convocatória discutida ao pormenor e cada golo transforma-se em manchete. Já a seleção feminina, mesmo após conquistas históricas, como a inédita qualificação para o Mundial de 2023, continua a receber atenção mediática reduzida. Essa participação histórica, a primeira de sempre da seleção feminina num Campeonato do Mundo, merecia ter sido celebrada como um marco nacional; mas foi, apenas, reconhecida de forma comedida.  A cobertura jornalística existiu, é verdade, mas sem o entusiasmo, nem a profundidade que se vê nos momentos mais banais da seleção masculina.


Kika , Jéssica, Dolores: nomes que deviam estar nas bocas do povo

A capitã Dolores Silva, a goleadora Jéssica Silva, a criativa Andreia Norton ou a jovem promissora Kika Nazareth têm mostrado, jogo após jogo, qualidade técnica, paixão e um compromisso inabalável face à  camisola nacional. No entanto, apesar do mérito evidente, continuam à margem do reconhecimento que outros atletas masculinos, com impacto desportivo semelhante, recebem diariamente.


Não se trata apenas de justiça desportiva, mas também de representatividade. Que mensagem se transmite para as jovens portuguesas que sonham enveredar por uma carreira no  futebol, quando o país parece interessar-se pouco pelas que já lá estão a representar a bandeira?


Estrutura desigual, consequências reais

A escassa visibilidade tem reflexos diretos na estrutura do futebol feminino: menor investimento nos clubes, reduzidas transmissões televisivas, salários incomparavelmente mais baixos e reduzido acesso a patrocínios. Tudo isto contribui para um ciclo vicioso onde o futebol feminino é percecionado como "menos atrativo", quando, na verdade, essa falta de atratividade resulta, não da falta de qualidade por parte das jogadoras, mas do facto de não terem as mesmas oportunidades para crescer.


Apesar dos avanços por parte da Federação Portuguesa de Futebol, que nos últimos anos tem reforçado o apoio à formação e às competições femininas, a distância entre os dois mundos permanece acentuada. Um símbolo claro disto é a diferença na cobertura mediática entre as convocatórias masculinas e femininas: a de Ronaldo é tratada como um evento; a de Dolores, uma nota de rodapé.


O futuro exige mais do que palmas

Portugal tem talento no feminino. Tem garra, tem conquistas no caminho. Mas precisa que o país olhe com igual interesse, apoie e celebre com a mesma intensidade com que se pintam rostos e enchem praças e cafés nas noites de Europeus e Mundiais masculinos.


Porque, enquanto a seleção masculina continua a brilhar sob os holofotes, a feminina tem vindo a fazer história às escuras - não por falta de luz, mas por ausência de quem acenda (e de quem esteja disposto a acender) o foco.


Daniela Moreira

Departamento Desporto


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