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Foto do escritorBenedita do Amaral

Ser estudante deslocado na Academia do Porto

A Universidade do Porto preza-se por ser uma das mais qualificadas instituições de Ensino Superior Público em Portugal. Por este motivo, não é de estranhar que cada vez mais os corredores das Faculdades da UP se encham de estudantes oriundos dos vários cantos do nosso país. Neste sentido, é essencial que se reflita sobre a atual condição dos estudantes deslocados e, para tal, o Departamento do Mundo Universitário não poderia ficar aquém desse desafio.


Em primeiro lugar, importa falar sobre o custo de vida no Porto, nomeadamente a questão das rendas. Em relação aos apartamentos T1 localizados no centro do Porto ( os mais procurados pelos estudantes), os preços variam entre os 500 € e os 900 €, valores que inúmeras vezes não se justificam tendo em conta as condições oferecidas. Nesta medida, a maioria dos estudantes deslocados veem-se obrigados a viver em espaços pequenos, pagando por estes rendas elevadíssimas. Consciente deste problema, a Universidade do Porto dispõe de um conjunto de nove residências universitárias distribuídas pela cidade e cujas mensalidades parecem adequar-se melhor à realidade das instalações. Tome-se o exemplo da estudante Madalena Almeida, do 3º ano do curso de Direito , que, por ser bolseira, paga por mês 76,79€ por um quarto na residência Aníbal Cunha, com a qual está bastante satisfeita – “ se tivesse de apontar alguma coisa, seriam os problemas de conexão à internet que vão acontecendo de tempos a tempos”.


Em segundo lugar, repare-se que a partir do momento em que os estudantes seguem o seu rumo para esta nova cidade, são rapidamente confrontados com circunstâncias nunca antes vividas. Aprender a lidar com as saudades de casa, conhecer e saber como se deslocar dentro do Porto são algumas das adversidades pelas quais os estudantes deslocados passam e que lhes exigem mais responsabilidade e resiliência. Nas palavras de Cristiana Pontes, estudante do 3º ano do curso de Criminologia, a sua primeira experiência a viver sozinha no Porto “foi traumática porque não estava habituada a estar longe de casa e da [ minha ] família. Apesar de ir todos os fins-de-semana a casa, os primeiros tempos foram muito maus.” A acrescentar a estes desafios, somamos o fator pandémico que veio dificultar ainda mais o processo de adaptação daqueles que chegavam pela primeira vez ao mundo universitário. Para Luana Almeida, estudante do 1º ano do curso de Direito, foi particularmente difícil fazer novos amigos dado “o medo constante provocado pelo Covid-19” e a inexistência de convívios que promovessem a aproximação entre os estudantes.


Finalmente, note-se que em maio deste ano muitas Faculdades optaram por adotar o regime misto de aulas como forma de adaptar o ensino universitário à realidade pandémica que se vivia, mas esta decisão acabou por debilitar a condição dos estudantes deslocados a vários níveis. Primeiro, é de destacar as constantes viagens a que os estudantes foram sujeitos para poderem assistir unicamente a dois dias de aulas presenciais. Segundo, seria expectável que o valor das rendas baixasse tendo em consideração que se instalava uma crise económica, mas tal não ocorreu e alguns estudantes sentiram-se “desamparados e incompreendidos”. Além disso, o regresso às aulas presenciais nestes moldes exigiu o desmembramento das turmas e, consequentemente, o ambiente nas faculdades tornou-se um pouco solitário. Josefa Maria Mané, estudante do 3º ano do curso de Direito, diz que o facto de não poder estar com os seus colegas fez com que a sua “vida social ficasse reduzida a zero.”


Este sumário retrato dos estudantes deslocados espelha em certa medida a realidade da comunidade académica da Universidade do Porto. É urgente que a Reitoria e as diversas Faculdades tomem consciência da verdadeira condição destes estudantes para que o Porto se torne, efetivamente, um lugar acolhedor, como uma segunda casa.


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