Sour, I still f#cking love you
- Eunice Galvão
- há 3 dias
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Em 2021, Olivia Rodrigo mudou para sempre o mundo da música com o lançamento do seu álbum de estreia, Sour. Não estando disposta a ser mais uma de um só hit e tornar-se rapidamente numa estranha sobre a qual sabemos tudo, lança o seu segundo álbum, Guts, em 2023. Após quatro anos do seu lançamento, Sour tornou-se, no passado mês de março, o álbum mais ouvido de uma artista feminina na plataforma Spotify. Posto isto, e apesar da cantora ter dado um passo em frente, porque não darmos nós três passos atrás e recordarmos onde tudo começou?
Começo por admitir que, apesar de a considerar uma fantástica compositora, o seu gosto para nomear álbuns é ainda pior do que o seu gosto para rapazes. Só compreendi verdadeiramente o significado do nome do seu primeiro álbum meses após assistir ao seu primeiro concerto em Portugal, em junho de 2024. Para os menos conhecedores do inglês, a palavra “sour” pode ser traduzida como “ácido” . Quando descobri que esta era a tradução, achei uma palavra feia, que me causava desconforto. Não obstante, num aleatório dia quente do mês de agosto, percebi que, se tivesse de resumir a minha adolescência numa expressão facial, definitivamente seria uma cara feia, de quem provou algo que lhe custou a sentir o sabor, algo ácido.
Sour é composto por 11 músicas e foi logo a primeira, brutal, que me fez render à música da Olivia Rodrigo. Lembro-me de estar a ouvir o álbum numa viagem de carro pelo simples facto de ser o assunto do momento, apesar de não perceber o porquê, já que as músicas que tinha ouvido até ao momento não me pareciam nada de especial. Até que brutal começa a tocar e foi aí que tudo mudou. Ao início, parecia apenas mais uma música. Nem estava a prestar muita atenção, para ser honesta. Até que, de repente, ouço: “And I'm so sick of 17/ Where's my fucking teenage dream? / If someone tells me one more time / «Enjoy your youth», I'm gonna cry”, e foi a partir destes versos que comecei a prestar verdadeiramente atenção à letra. Parecia-me incrível alguém conseguir explicar em 2 minutos e 54 segundos aquilo que eu sentia há anos e nunca tinha encontrado as palavras certas para o descrever. Ali estava eu, no banco de trás do carro, com 17 anos, cansada de ser mais um cliché adolescente, sem ideia de onde estaria o meu teenage dream e, definitivamente, saturada de ouvir as pessoas dizerem para aproveitar aqueles que pareciam ser os piores anos da minha vida. E foi assim que começou a minha história com a Olivia Rodrigo, uma jovem da minha idade que não fazia ideia de quem eu era, mas que parecia saber tudo sobre mim.
Apesar de ser conhecida pelas suas heartbreak songs, o que me cativou verdadeiramente nesta artista foram as suas músicas sobre a dor associada à juventude. jealousy, jealousy fez-me, definitivamente, perceber que não era a única que me comparava constantemente a todos aqueles que me rodeavam e que vivia na fronteira entre ficar feliz por eles e, ao mesmo tempo, sentir inveja por conseguirem alcançar tudo o que eu também tanto cobiçava, mesmo sabendo que a vitória deles não significava a minha perda.
Outro aspeto que me fez perceber que esta jovem compositora tinha algo de especial foram as suas metáforas. Em favorite crime, assemelha uma relação amorosa a um crime, dizendo que foi voluntariamente uma cúmplice desta relação que acabou por lhe partir o coração. Numa outra música, a cantora utiliza a expressão “1 step forward, 3 steps back”, com o intuito de demonstrar que, sempre que consegue fazer algum progresso naquela relação, acaba, posteriormente, por ter de recuar do local onde inicialmente se encontrava. Em traitor, Olivia utiliza um trocadilho de palavras que, apesar de não funcionar em português, não deixa de ter a minha admiração (“guess you didn't cheat, but you're still a traitor”), sendo que a palavra “traitor” não remete para a infidelidade, mas sim para a quebra de confiança. A meu ver, o simples facto desta ter transformado uma música intitulada de “carta de condução” num hit mundial, demonstra o quão incrível ela é. Sejamos honestos, haverá tema mais desinteressante para escrever uma música sobre?
Concluindo, a Olivia Rodrigo pode não ser suficiente para muitos homens, mas certamente é suficiente para não me fazer desejar ter pensado melhor antes de avançar e me apaixonar pela sua música.
Eunice Galvão
Departamento Cultural
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