SUGESTÕES CULTURAIS DE MARÇO
- Departamento Cultural
- 31 de mar. de 2023
- 3 min de leitura
O QUE ANDÁMOS A LER, OUVIR E VER NO MÊS DE MARÇO
The quiet girl (2022), de Colm Bairéad
An Cailín Ciúin, título original do filme no seu principal idioma - o gaélico irlandês -, foi um dos grandes nomeados para Óscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano.
Colm Bairéad apresenta-nos, com a sua primeira obra, uma descoberta improvável do carinho maternal e paternal. Numa Irlanda rural dos anos 80, Cáit é uma de várias crianças condenadas à triste negligência de uma família numerosa e disfuncional. Tudo muda quando, num verão, a menina tímida de 9 anos é entregue aos cuidados de Eibhlín e Seán, um casal de parentes afastados proprietários de uma quinta.
Entre dias solarengos de corridas ao correio, banhos demorados e docinhos deixados no canto da mesa, Cáit é levada a conhecer o verdadeiro significado da palavra Casa — a casa-refúgio, um colo sempre livre.

É caso para dizer que onde o amor é palpável, as palavras tornam-se supérfluas. Faço minha a deixa de Seán: “Não precisas de dizer nada, lembra-te sempre disso.”.
Clara Castro
She Said (2022), de Maria Schrader
Filmes como All The President's Men (Alan J. Pakula, 1976), O Caso Spotlight (Tom McCarthy, 2015) e The Post (Steven Spielberg, 2017) criaram o hábito e o gosto de vermos transpostas para a grande tela histórias do jornalismo de investigação, em que incluímos a presente sugestão.
She Said narra a história de duas jornalistas do New York Times (Jodi Kantor e Megan Twohey) que investigaram e revelaram ao mundo os casos de assédio sexual levados a cabo pelo um dos maiores produtores de Hollywood: Harvey Weinstein.
Apesar de ser um filme sóbrio e não ter dado origem a grandes mediatismos, She Said consegue a proeza de contar uma história da qual todos ouvimos falar, mas de cuja origem pouco se sabe. Uma ode ao jornalismo de investigação, uma mão dada às vítimas, numa luta diária e incessante contra o assédio.

“I told a lot of people and nobody did a thing. Nothing.”
Martina Pereira
The Last of Us (2023), de Neil Druckmann e Craig Mazin
Quando achávamos que a HBO não nos poderia surpreender nunca mais depois da icónica adaptação de Game of Thrones, eis que nos apresentam, na minha opinião, a melhor série de dois mil e vinte e três.
The Last of Us destaca-se por conseguir a maior proeza e objetivo que qualquer série pretende alcançar: deixar o espectador completamente de rastos quando o episódio termina porque a única vontade é a (i)lógica necessidade de saber o que acontecerá a seguir. Para os menos entusiasmados com temáticas de sci-fi (onde me insiro), TLOU é uma bofetada de luva branca incessante. Sim, a premissa baseia-se num apocalipse despoletado por um fungo, mas outro dos seus grandes méritos é tornar o que a priori seria totalmente disparatado, numa constância de relatable situations.

Combinar uma trama intrigante e repleta de dilemas éticos, onde observamos o melhor e o pior do ser humano; uma construção temporal perfeita, onde existem saltos cronológicos, backstories e transformações pessoais; um discurso de intervenção de um gabarito nunca antes visto, refletindo não só questões políticas como sociais com uma classe diferenciada e, claro, um elenco extraordinário, é uma receita de sucesso. Nem sempre as receitas de sucesso logram todo o seu potencial; neste caso, TLOU obliterou a escala. Must watch.
José Santos
CURA- sanar a ação do tempo e outras “estórias”
“A Música Portuguesa A Gostar Dela Própria” (MPAGDP) é uma associação fundada em 2011 que tem como missão a documentação, conservação e celebração de práticas musicais e de tradição oral, bem como outras manifestações de cultura popular, de norte a sul do país. Vivemos um momento de transição, na entrada para a era da tradição digital— a vida é mediada por aparelhos, o consumo é acelerado, a memória deixou de ser trabalhada. Mas ainda há quem saiba de cor as rezas, as canções, os responsos, as benzeduras, o saber fazer, as danças, as músicas, as estórias de vida que Tiago Pereira (fundador) e a sua equipa há mais de 10 anos se propõe gravar.
Deste trabalho, ainda em curso, resultou um repositório digital que conta já com mais de 7000 vídeos. Organizados num mapa interativo de Portugal (continental e insular), os vídeos podem ser consultados no website.

Na sequência de uma candidatura à Operação Renovação de Aldeias, nasce deste projeto o CURA um espaço físico na aldeia de Serpins, no concelho de Lousã (Coimbra), à mesma distância de Trás-os-Montes e do Algarve, que “celebra todo o trabalho de registo audiovisual da memória colectiva portuguesa, dos últimos 100 anos”. A inauguração do espaço será dia 24 de março e conta com uma programação de três dias.
Ana Neri Moreira
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