Dylan Dog: Trevas Profundas (Dario Argento, Itália, 2018)
Dylan Dog, o investigador do paranormal, o detetive do pesadelo, talvez a mais icónica personagem de Banda Desenhada da editora italiana Bonelli. Criado por Tiziano Sclavi, o nosso despreocupado protagonista de calças de ganga, camisa vermelha e blazer preto (isto se não estivermos no domínio do branco e do preto), quando aparenta caminhar sem rumo, é sempre atraído, inexplicavelmente (ou talvez fatidicamente), para o abismo do fantástico e do surreal. Aqui, em virtude de uma paragem policial (por motivos erróneos!) no trânsito de Londres que resulta na apreensão do seu tradicional Carocha branco, o destino empurra-o para uma exposição de fotografia “pouco convencional”… É aqui que entramos no mundo do BDSM. O seu coração eternamente mole, não o impede de sentir uma misteriosa atração por uma das modelos que viu representadas, um ideal que vai perseguir ao longo da história e que o levará por um sinuoso caminho aos confins do sadomasoquismo, até ao desvendar do destino da sua paixão. Estando nós na esfera da dominância e da submissão, é-nos ainda elegantemente introduzida a temática da estratificação social, numa peculiar relação com esta forma de fetiche. Nesta primeira aventura do realizador (aliás, do MESTRE italiano do horror, mais conhecido por Suspiria, o clássico de 1977) na BD, são evidentes os traços do seu estilo tão caraterístico e é visível uma equilibrada simbiose dos mundos do cinema e da BD.
Enfim, não creio que tenhamos mais filmes do mestre, por isso, louvamos tudo o que das suas mãos vier.
A Tale of Two Sisters (Kim Jee-Won, Coreia do Sul, 2003)
Escrito e realizado por Kim Jee-Won, conceituado realizador que ajudou a catapultar o cinema sul-coreano para o mundo, A Tale of Two Sisters, grande vencedor do Fantasporto, é um coerente híbrido entre terror asiático e drama familiar, inspirando-se num conto popular com centenas de anos. Segue a história de Su-Mi depois de esta regressar de um hospital psiquiátrico, numa cena inicial que nos remete imediatamente para The Ring (rapariga adolescente, cabeça para baixo e longos cabelos negros que fazem de cortina ao rosto), aparentando ter estado internada devido ao choque provocado pela morte da sua mãe, cujas circunstâncias são desconhecidas. O seu pai leva-a para a sua isolada casa de campo, de alta vegetação e portão de ferro, para se juntar à sua irmã Su-Yeon, e onde é recebida pela sua desconcertantemente alegre madrasta, que parece ter vindo para seduzir o pai de fraco espírito e substituir a falecida mãe das irmãs. Rapidamente nos apercebemos do ambiente sinistro-fantasmagórico que paira pela casa aparentemente assombrada, muito devido à suprema cinematografia estilo quase noir e aos seus elegantes interiores escuros, sendo ao espetador fornecidas apenas soltas e desconexas peças do puzzle acerca do verdadeiro desfecho da história. Uma narrativa sobre perda e traumas dos quais não nos conseguimos livrar (o verdadeiro terror, afinal de contas), que culmina num comummente designado de “mind-fuck”, ideal para quem adora ir pesquisar “a explicação” do filme após a visualização.
AVISO: Não vejam o remake americano!
What we do in the shadows (Jermaine Clement, EUA, 2019-presente)
E porque o Halloween não tem de ser só sustos, dirigimo-nos diretamente para a comédia! Baseada no homónimo filme de culto de 2014 do agora fenómeno Taika Waititi, opera uma similar subversão ao género vampírico. Chegou a questionar-se a necessidade da existência desta série mas agora que chegou, não conseguimos parar de beber do seu sangue! Em modo mockumentary, segue a história de quatro vampiros colegas de casa numa mansão gótica em plena Staten Island, o pâncreas de Nova Iorque (é já hilariante esta contradição!). Nandor é um distinto guerreiro e antigo líder de um reino iraniano, mas com o passar dos séculos parece ter amansado; Nadja é a rainha das deadpan one-liners, aparentemente a mais sensata, mas ao mesmo tempo a mais convencida; Lazslo, o marido de Nadja, transformado por esta mesma, antigo nobre inglês, provavelmente ninfomaníaco e que tem de gritar efusivamente “Bat!” sempre que se transforma em morcego; finalmente, Colin Robinson, um vampiro emocional, isto é, em vez de sangue, suga a energia das pessoas, e que estrategicamente trabalha como gerente de um escritório. Poderosos e imortais, são contudo incapazes de perceber a internet, navegar no sistema de autocarros ou sequer de lavar a própria roupa. Para isto têm Guillermo, o sempre prestável humano (e evidentemente abusado) servente de Nandor, que deseja que o seu mestre o transforme em vampiro, dando-se a todos os sacrifícios para que isto aconteça. Personagens dinâmicas e incrivelmente interpretadas, com uma solidez de argumento e alcance de piadas ao nível de poucos, mas acima de tudo… é uma tolice! Disponível na HBO Portugal.
コメント