SUGESTÕES CULTURAIS PARA O DIA DA MULHER
- Departamento Cultural
- 12 de mar. de 2023
- 4 min de leitura
Neste dia de luta, o Departamento Cultural do Jornal Tribuna deixa-te sugestões culturais que têm entre si uma coisa em comum: a Mulher.
8 hinos à Mulher
Este é um dia para celebrar a Mulher, e nada melhor do fazê-lo através da Música. Numa mistura de estilos, de Aretha Franklin ao duo português Golden Slumbers, aqui vos apresento uma viagem no tempo por aquela que tem sido a luta feminina pela igualdade e por um reconhecimento pleno que tarda em chegar. 8 músicas para este dia 8 de março. Subam o volume!
“Respect” (Aretha Franklin, 1967) – “All I'm askin' / Is for a little respect when you come home (just a little bit)”
“I will survive” (Gloria Gaynor, 1978) – “You think I'd crumble? / You think I'd lay down and die? / Oh no, not I, I will survive”
“Essa mulher” (Elis Regina, 1979) – “Essa menina, essa mulher, essa senhora / Em que esbarro a toda hora / Num espelho casual / É feita de sombra e tanta luz / De tanta lama e tanta cruz / Que acha tudo natural”
“What’s up?” (4 Non Blondes, 1993) – “And I try […]/ I try all the time / In this institution […] I pray every single day for a revolution”
“Man! I feel like a woman” (Shania Twain, 1997) – “No inhibitions, make no conditions, get a little outta line / I ain’t gonna act politically correct”
“Não me importo” (Carolina Deslandes, 2020) – “Eu renasci na despedida/ tu não vês / O grito da tua raiva não me acorda / E se não sentiste o romper da corda / Eu não me importo”
“La femme” (Barbara Pravi, 2021) – “Qui a décidé ce qu'est la femme?”
“Woman” (Golden Slumbers, 2022) – “It’s violent to be dragged in the mud / It’s violent to be the prize of the feast/ Are you sorry now? […] / Woman, woman of the womb / Are you scared now?”
PLAYLIST NO SPOTIFY: https://open.spotify.com/playlist/71knV5HeFXHOyzgxdUuU10?si=e6308a52e636481e
Beatriz Castro
Angelina Jolie: Na terra de sangue e mel (2011)
Angelina Jolie, atriz de uma beleza invulgar, poderia bem ter-se bastado com a vida e fama que Hollywood já lhe garantia. Não obstante, desde cedo abraçou causas humanitárias, destacando-se o cargo assumido enquanto embaixadora do ACNUR.
Em sintonia com essa sua visão do mundo, estreou-se na realização com Na Terra de Sangue e Mel, que retrata a guerra civil da então República Federal da Jugoslávia (1991-2001), durante a qual ocorreu a primeira limpeza étnica na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Neste drama, seguimos a relação entre um militar sérvio (Danijel) e uma pintora bósnia muçulmana (Ajla) que se reencontram em clima bélico, após um envolvimento romântico anterior. Uma história que nos mostra os dois lados do conflito: o sérvio, que usando de uma opressão atroz sobre o seu inimigo, se confronta constantemente com um passado comum e próximo; e o bósnio, cujo sofrimento tem rosto de mulher – o de Ajla e das que com ela são sequestradas e violadas pelas forças sérvias. Por entre cenas duras de um realismo sem precedentes, vemos desconstruído o papel da mulher na guerra, que nos surge aqui como uma figura forte, apesar de vítima.
Uma opção arriscada desta “first time director”, que escolhe pôr o dedo em feridas políticas ainda abertas. Talvez por isso não tenha merecido a ovação que artisticamente seria expectável; uma subvalorização ainda assim incompreensível.
Em qualquer caso, bravo, Angelina. Uma mulher, pois claro.
Clara Castro
O Despertar (1899), de Kate Chopin, ou o direito de se ser o que se quiser
Kate Chopin (1850-1904) não deixou para a posteridade uma mão cheia de livros, mas deixou um que, só por si, vale pelas duas mãos cheias. Foi da sua pena (e da sua coragem) que saiu uma história feminista que chocou o mundo: a história da Edna, uma mulher oprimida, solitária, presa às convicções sociais, que descobre que pode ser independente e que desperta para a possibilidade de ser o que quiser, sem amarras. “Uma certa luz começava a despontar vagamente dentro dela: aquela luz que ao mesmo tempo que mostra o caminho, o proíbe.” (p. 25)
Neste 8 de março, sejamos o que quisermos ser.
“Eu sei que vou gostar, vou gostar da sensação de liberdade e independência” (p. 125)
Martina Pereira
Radio SLUMBER gossip booth e a arte em contar segredos
Radio Slumber Gossip Booth é um projeto multi-dimensional das artistas Amy Suo Wu e Elaine W. Ho que consistiu, num primeiro momento, numa série de encontros informais e mais tarde numa emissão de rádio e numa instalação.

Os primeiros encontros realizaram-se em 2020, em Arnhem, e reuniram artistas, ativistas e investigadoras, muitas delas de origem da diáspora, com o propósito de, num ambiente intimista "entre uma festa do pijama e um grupo de trabalho", discutirem temas tidos como urgentes para a luta feminista interseccional no contexto pandémico.
Em 2021, produziram-se três séances de rádio, transmitidas em Utrecht, Viena, Amesterdão e Hong Kong. Estas sessões, comparadas pelas artistas aos grimoires das bruxas medievais, consistem numa experiência auditiva em que conjuram, como que num audio-livro de feitiços, a arte de contar histórias e da partilha de segredos, encaradas como mecanismos informais de produção de conhecimento. Podem ser ouvidas no website radioslumber.net

Já em 2022, é apresentado como instalação-multimédia no Stedelijk Museum em Amesterdão, consistindo na criação de um espaço sensorial de cumplicidade, através do qual as artistas nos convidam a uma reflexão sobre a amizade feminina como arma política.
Ana Neri Moreira
Pés, para o que os quero se tenho asas para voar? (Frida Kahlo)
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