Teatro é Missão
- Beatriz Loureiro
- 4 de mai. de 2023
- 4 min de leitura
Pelos olhos de João Santos e Marta Barros
A 12 de fevereiro, rumámos da mui nobre Invicta até Resende, somente movidos pela fé, generosidade e sentimento de aventura – partimos em busca de uma semana de reflexão, de verdadeira desconexão do quotidiano atribulado.
Fomos divididos por valências: Creche, Escola Primária, Escola Básica, Escola Secundária, Lares e Teatro. Diria que o Teatro é mesmo o ponto alto da semana – é a altura em que os missionários e a comunidade de Resende se reúnem para celebrar a semana de Missão vivida. Este ano, com a coordenação dos chefes Duarte Nogueira e Luísa Cardoso, o teatro contou com a presença de António Fonseca, Carolina Poeta, Francisca Almeida, João Santos, Margarida Maia, Marta Barros, Pedro Silva e Salvador Sottomayor.

Com o propósito de melhor compreender a dinâmica de Teatro da Missão, estive à conversa com quem não a poderia desvendar melhor: dois dos atores – João Santos e Marta Barros. João é estudante do 2º ano da Licenciatura em Direito e Marta é estudante do 2º ano da Licenciatura em Fisiologia Clínica. O contacto com o mundo das artes performativas não era estranho para nenhum dos dois: João é músico desde os 10 anos (tocou violino, toca percussão e está numa orquestra), vê na música uma forma de se expressar, «[…] faz tudo parte de mim […]»; Marta, durante 4 anos, fez teatro num grupo amador de Lordelo, tendo apresentado várias peças.
Porque é pelo princípio que se começa, nada mais sensato do que apurar a motivação de ambos para se inscreverem na Missão País. Numa decisão de última hora, João resolveu aventurar-se neste «[…] desafio diferente, que nos põe fora da nossa zona de conforto […]» com o objetivo de ter uma experiência de voluntariado e de reencontro com a fé. Marta, por um lado, deixou-se encantar por testemunhos de amigos acerca «[…] do poder transformador que a Missão tem […]» e, por outro lado, sendo escuteira, reconheceu na Missão muitos dos valores do Escutismo. Tanto para João como para Marta, apesar de Teatro não ter sido eleito como primeira opção (tinham escolhido valências direcionadas para as crianças), não ficaram descontentes com a tarefa que teriam de desempenhar ao longo da semana: João, por ser músico, não se sentiria desconfortável em estar em palco; Marta já tinha tido uma experiência prévia, o que facilitava a atividade.
Apesar de o início da semana, para João e Marta, ter sido marcado pela incerteza de um projeto cujo resultado era uma incógnita, com o passar dos dias, investiram cada vez mais em dedicação no sentido de verem a sua Missão concretizada – assim, um primeiro sentimento de inquietação pela sua semana ser diferente da dos restantes missionários, no que ao voluntariado propriamente dito concerne, rapidamente se dissipou. João menciona que estavam ali «[…] para servir à comunidade, ainda que de forma diferente […]». Constantemente ouvimos que quem espera sempre alcança e é precisamente nesse sentido que Marta refere que «[…] quem fica no Teatro tem uma espera maior para ver frutos do trabalho e da Missão, mas, no final, o sentimento de realização afasta tudo o resto […]», assim como João diz que «[…] no fim, ver aquele auditório cheio de pessoas a interagir foi mágico, foi incrível […]».
A verdade é que, João, mesmo sem nunca ter feito Teatro antes, teve um desempenho excecional, tendo, inclusivamente, sido selecionado para representar a sua personagem – Fred – no Teatro Regional do Porto: «[…] foi uma oportunidade única, que não podia desperdiçar […]».
Tendo a amizade como pano de fundo, esta peça retrata precisamente os valores que nos guiaram cada dia de Missão: companheirismo, entreajuda e perseverança. Os amigos como força motriz para uma vida plena.
São inequívocas as transformações, nas palavras de Marta, que podem advir dos «empurrões bons» dados por qualquer vertente das artes performativas – João destaca a música enquanto ferramenta essencial para o desenvolvimento do seu lado extrovertido e Marta sublinha o Teatro como instrumento para fazer crescer a confiança em si e nos outros.
Sendo o Teatro algo que exige algum tempo e esforço de compreensão, a necessidade assustadoramente notória de os jovens terem nas mãos um conteúdo imediato para captar a sua atenção constitui, sem dúvida, um entrave à valorização desta arte pela camada mais jovem. João, assim como Marta, apontam enquanto medidas essenciais no sentido de fomentar as artes performativas, a implementação deste domínio no seio escolar, seja através da criação de clubes (de Teatro, de Música e de Dança), seja através da realização de visitas de estudo neste âmbito e, para além disso, a importância de apostar numa maior divulgação nas redes sociais. A verdade é que, e aludindo às palavras de Marta, «[…] não há ninguém que vá ver uma peça e saia de lá indiferente […]» – o que é preciso é ir, é ter vontade de se tornar intelectualmente mais rico.
E para o ano? João, tendo ficado com o bichinho do Teatro, a voltar, será para o Teatro; já Marta optaria por outra valência, simplesmente para ter uma nova experiência e sair da sua zona de conforto.
Parece que descobrimos o mais antigo artefacto do monte Cutukuloo-Huam-Cutu-Belelewii-Pshhh que está enterrado há 3500 anos e que, reza a lenda, concede os desejos mais profundos de quem o encontrar. E os nossos foram mesmo concedidos.
Ver o impacto positivo que o Teatro teve na comunidade de Resende é a verdadeira definição de fechar a semana com chave de ouro. Seja no Teatro ou em qualquer outra valência, voltámos com a certeza de que recebemos muito mais do que o que demos.
Foi bonita a festa, pá.
Beatriz de Oliveira Loureiro
Departamento Cultural
Comments