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Foto do escritorTherny Barros

Um Antiquado Ideal (A questão do Machismo na FDUP)

Demandar à mulher a permissão para a cortejar, o respeito para com a beldade que nos enleva e o arretar no limiar da desonra, se abstendo de toda e qualquer atitude que possa causar desgosto e desinteresse a quem muito se quer, ou pelo menos se deseja. Tais comportamentos transportam a cenários literários e teatrais, inspiram e figuram belas canções e fidalgas poesias, muitas vezes consideradas retrógradas e antiquadas, ou como diriam os anglófonos, Old Fashioned.


É evidente nos periódicos de todo o mundo ocorrências do Mundo Universitário nos quais constam o machismo, por vezes acompanhado de comportamentos sexistas, xenófobos, racistas, assediantes e até mesmo atos e tentativas de violações. Das Academias Portuguesas originam-se casos como aqueles que levaram à manifestação de estudantes da Universidade do Minho a 2 de Dezembro de 2021 e à suspensão de professores universitários por discursos manifestos de machismo. Releva-se mencionar o recente processo contra a Universidade de Harvard por negligência no tratamento de acusações de assédio, prova de que nem as maiores, e mais prestigiadas universidades do mundo estão desprovidas de atos machistas, apresentando-se no meio académico não apenas na atitude de estudantes, mas também na mentalidade de diversos grupos académicos, de membros do corpo docente, e outros funcionários das universidades.


Na FDUP desenrolam-se histórias que em nada figuram o cortês old-fashioned. Pelo contrário! São histórias penosas delineadas por situações incómodas e desconcertantes, desencadeadas pelo proceder e proferir de muitos, que, por atitudes e comentários impertinentes e machistas, ferem o psicológico, a honra e os sentimentos das que se veem infligidas pelos mesmos. Adentrando o mês da Mulher, não se pode deixar de tratar e retratar o machismo, uma das questões que mais aflige as estudantes de nossa Academia e de outras.


Constitui-se um problema oculto e despercebido por muitos, além do facto de que muitas das ocorrências não são denunciadas e repreendidas com a frequência devida. Questionadas pelo Tribuna, algumas estudantes da FDUP afirmaram não ter tido o conhecimento de tais práticas na Faculdade até verem as postagens do FEMFDUP, uma vez que tiveram o fortúnio de não serem assediadas no campus e nunca terem presenciado situações afins com as colegas. Outra estudante avançou já ter observado comentários machistas num grupo de rede social dos estudantes, e, questionada sobre a sua reação face ao mesmo, disse-nos que “ignora-se”, isto “porque são percebidos como simples brincadeiras e mera infantilidade dos que assim agem”.


Nas palavras da estudante Josefa Mané “as maiores evidências do machismo estão nos relatos de imensas colegas que experienciaram na pele o flagrante machismo.

Somam dois anos que o FEMFDUP coleta e divulga o testemunho de alunas que vivenciaram o machismo através da atitude de membros da Faculdade, nas instalações da mesma e fora, e tanto em situações curriculares como extracurriculares.

O Tribuna convida o leitor a conhecer algumas das histórias de machismo e assédio divulgadas na página do Facebook e do Instagram do FEMFDUP.


No ano letivo corrente as mulheres constituem 53,6% dos matriculados no ensino superior em Portugal. Dados da United Nations Department for Economic and Social Affairs referentes ao ano de 2020, indicam que 41% das mulheres estavam inseridas no nível escolar terciário (licenciatura, mestrado, doutorado e outros), contra apenas 36% dos homens. Em 2018, na Europa as mulheres representavam 48.1% dos graduados em doutoramento (Dados da Comissão Europeia).


Estatisticamente, pode-se afirmar que as mulheres já não são uma minoria no ensino universitário europeu, mas a desigualdade perdura enquanto não forem colmatadas as situações, todas elas assentes no machismo, que geram medo e instabilidade à mulher no meio académico. É desmoralizante saber que, depois de toda uma evolução política e cultural para que as mulheres tivessem os seus direitos reconhecidos em vários domínios, ainda tenham que perpetrar uma luta para que os direitos já reconhecidos sejam observados, e para que haja sanções aos que se atrevem a agir em contrariedade a estes direitos e à própria lei na qual eles estão tipificados.


O machismo tem de ser abordado enquanto problema sistémico e estrutural, como de facto é. É uma contracultura característica da comunidade universitária universal, e que se estende a vários níveis das instituições acadêmicas. Em 2017, a socióloga Maria do Mar Pereira, numa investigação empírica, constatou que o sexismo existe nas universidades portuguesas, e que ele condiciona as condições de aprendizado, podendo ser observado diariamente formas mais ou menos explícitas de discriminação, ridicularização e menorização das mulheres (...)”. É uma questão profundamente arraigada nas estruturas acadêmicas. Rachel Hall, repórter educacional do The Guardian, caracteriza o assédio sexual como sendo “endémico” às universidades e suas faculdades.


Verdade é, embora não se admita publicamente, que existe a ideia e o pré-conceito, disseminado especialmente entre os homens, de que a vida universitária é para, ocasionalmente, se versar nas trivialidades do ato sexual.


Clarificando ao leitor, o machismo define-se como um orgulho masculino exagerado, comummente exteriorizado sob a forma de comentários reiterados de sexismo, ou em atos de violência e assédio face à mulher. Por tal, este artigo está pautado com termos conexos ao machismo.


Não nos calemos em face a tais situações, sejam elas frutos de uma atitude expressamente machista ou de uma piada corriqueira que em seus risos mórbidos esconde uma omissa indiferença. Que, no proceder dos que se apelidam de homens, seja achado um antiquado ideal que, à moda antiga, trata com delicadeza e cortesia as mulheres, e como um sujeito do século presente, reconhece a força e o potencial, valoriza a honra e respeita a integridade e a vontade das mesmas, fornecendo um ambiente de convivência acadêmica e social onde a mulher, sem que tenha de abdicar de sua feminilidade e de todos os traços que a definem e caracterizam enquanto tal, possa se sentir incluída e segura.


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