A Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, apresentou a abordagem comunitária com o intuito de resolver a crise dos refugiados. Contudo, a União Europeia distingue os refugiados ucranianos dos refugiados da África e do Médio Oriente. Pergunta-se: Porquê?
Há quem diga que o Homem mostra diferentes faces para diferentes contextos – uma para os conhecidos, outra para amigos, uma terceira para a família e uma quarta para nós mesmos. A União Europeia (doravante, UE) tem vindo a mostrar uma cara para os refugiados ucranianos e outra para os que provêm de África.
Nestes últimos tempos, Itália tem vindo a ser um ponto de desembarque para os refugiados africanos. Contudo, o governo italiano de extrema-direita, liderado por Giorgia Meloni, não os recebe como amigos, executando diversas medidas que dificultam a sua pacífica receção à Europa. Dá-se o exemplo da possibilidade de manter refugiados detidos por 18 meses, no caso em que estes mintam acerca da sua idade, facto este provocado pela tentativa de serem acolhidos por um regime especial de apoio a menores refugiados. Não obstante, os refugiados que atravessam o Mar Mediterrâneo em condições perigosas e desumanas, poderão sempre pagar uma quantia de 5000€ (cinco mil euros) para evitarem serem detidos, enquanto aguardam o processamento do seu pedido de asilo.
A convite da Primeira-Ministra Italiana, Von der Leyen deslocou-se à região de Lampedusa, a fim de realizar um “passeio de montra”. Assim sendo, a Presidente da Comissão Europeia demarcou-se da solidariedade e apresentou um Plano para solucionar esta crise humanitária, provocada pela guerra ou pela falta de condições de vida, plano este que pretendia acolher apenas os bons refugiados, que fossem pelas vias da legalidade migratória, e não aqueles que enviados pelos ditos traficantes.
Antes de prosseguir no desenvolvimento restrito desta temática, será necessário explanar a razão da confraternidade e apoio mútuo da Comissão Europeia ao Governo italiano. Von der Leyen apostou numa política de submissão aos interesses da extrema-direita, antes que esta comece a corroer as estruturas internas da própria UE – poder-se-á aplicar, porventura, aquele velho ditado “manter os amigos perto, e os inimigos ainda mais perto” – e “por perto” significa uma relação de cooperação ou amizade. Podemos, de certa forma, verificar uma mudança da postura das instituições face ao fenómeno da ascensão dos movimentos fascistas e ultranacionalistas: ao invés de os colocarmos de parte, para que este alimente os anseios dos desfavorecidos e dos injustiçados contra a nossa União, vamos colaborar com eles, para que a origem dos seus problemas não seja de fonte comunitária.
@Diário de Notícias
Retomando ao tema em exposição, o plano europeu, para além de ser substancialmente contrário aos fundamentos da dignidade humana e da solidariedade, também promete despender um financiamento de mil milhões de euros para a Itália conseguir defender a segurança interna da UE. Numa Europa em que a pobreza e a falta de condições estão, todos os dias, nos cabeçalhos das notícias, dispensa-se verbas para construir muros entre continentes e etnias.
Os refugiados ucranianos não foram recebidos por brigadas de polícia preparadas para os enviar para o seu país de origem. Ninguém julgaria o refugiado ucraniano por mentir em relação à sua idade para conseguir proteção especial. Nós, Europeus, acolhemos os refugiados ucranianos devido à guerra que aflige o seu território. A UE não investiu financiamento para interromper as emigrações ucranianas, mas para auxiliá-los na sua vinda pacífica para os Estados membros.
Uma Europa de muros a Sul e de portas abertas a Leste.
Diogo Lamego
Departamento Sociedade
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