Novembro foi um mês repleto de ações em volta do ambiente e de temas que com ele se relacionam; da 27º Cimeira do Clima da ONU (COP 27), às ruas e faculdades de Lisboa, o ambiente foi um denominador comum que tanto trouxe união em prol de um bem, que é a natureza, como também trouxe comoção ao ambiente universitário.
Entre os dias 6 e 20 de novembro, a cidade de Sharm El-Sheikh no Egipto foi a anfitriã de mais uma sequência de discussões governamentais, e não só, sobre a natureza e os riscos que ela enfrenta face às alterações climáticas. Para a comunidade acadêmica lisboeta a passagem da cimeira não foi tida com indiferença, agindo de modo a que as reivindicações suas, e de toda uma geração, fossem ouvidas.
O ativismo em prol da natureza e sua defesa não é novidade para a comunidade académica em Portugal, sendo já conhecido do público o movimento Greve Climática Estudantil, a qual se insere na visão global da Friday for Future, um grupo que visa a realização de ativismo a nível mundial, e em Portugal o grupo já organizou algumas manifestações e ações de sensibilização pública e pressão governamental.
Em paralelo com os grupos acadêmicos e expressamente ativistas figuram-se ações associativistas de cunho mais rogue, mas nem por isso ilegítimas ou infundadas.
No passado 7 de Novembro, tendo sido anteriormente noticiadas na greve de 22 de Setembro, alunos universitários e secundários da área de Lisboa fizeram a ocupação de estabelecimentos educacionais, exigindo o fim do uso dos combustíveis fósseis até 2030. As ocupações demoraram pelo menos 4 dias e culminou com o noticiar da prisão de 4 estudantes a 11 de Novembro na FLUL, na sequência da recusa de desocupação do recinto. As mesmas tiveram nesta terça-feira (29) a primeira audição, seguindo o processo nos próximos meses que se seguem.
Não há dúvidas de que o associativismo académico existe e de que os jovens sabem e não têm medo de fazer ouvidas as suas vozes, embora, deva sempre existir um cuidado, de modo a que o bom senso não se suplante pela impulsividade que tanto marca a juventude, evitando situações que possam resultar em processo e causem repercussões indesejadas como - agora num tom de manifesto exagero cronista - a crise de reféns de 1979 na embaixada americana no Irão, ou ainda a morte - com ainda mais exagero - ou uma guerra mundial. Lembrando ao leitor que Gavrilo Princip também era estudante quando assassinou o arquiduque Francisco Ferdinando.
Em Portugal os estudantes sempre foram um exemplo de resistência, contudo, a apologia à cautela julga-se necessária numa altura em que são muitas as notícias, um pouco por todo o mundo, de estudantes universitários e não só sendo afligidos em defesa da liberdade e de um futuro melhor mas também, perdendo muitos a vida na luta pelas causas que acreditam.
PS.: Para o leitor curioso, sugiro uma pesquisa e leitura sobre as recentes ocorrências envolvendo estudantes no Zimbabué, Myanmar e Afeganistão. E a quem souber sobre o estabelecimento educativo frequentado por Gavrilo Princip, agradeço um breve murmúrio de informação.
Therny Barros
Departamento Mundo Universitário
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