Vida, de Jorge Palma (2023)
- João Vilas Boas
- 25 de mai. de 2023
- 2 min de leitura
Doze anos após Com Todo o Respeito (2011), Jorge Palma lança o seu primeiro álbum de originais desde então, Vida.
Analisar algo deste esplêndido artista, qual tarefa hercúlea, exige um discernimento mormente heurético; aliás, não só por ser Palma, mas por ser Vida, «causa de todas as causas / princípio de todo o princípio / final de todos os finais» («Vida», faixa introdutória do disco).

Os anos podem ter passado, mas o músico decerto permanece ciente do leque das suas capacidades, como bem o ilustra «Uma estação no inferno», que fez o autor deste artigo recordar-se das prazerosas tardes de verão a ouvir o clássico Só (1991).
Sozinho não está neste projeto: nomes como Mário Barreiros, Filipe Melo, Rão Kyao, Rui Reininho e Manuela Azevedo integram a panóplia de artesãos nesta «Espécie de altar».
Jorge Palma, tal como um erudito monge oriundo de montanhas japonesas, reflete sobre as idiossincrasias do mundo com as suas poesias, conciliando cristalinas influências do folk, do jazz e dos blues.
Por detrás deste aparente marasmo, existe imensa substância – a lírica de «Porque tu não estás», repleta de simbolismo, representa momentos pelos quais todos já passámos.
«Tanto caminho / tanta encruzilhada / tantos sinais / à beira da estrada» («Três palmas na mão»)
É impressionante como Palma nos consegue fazer meditar acerca do rumo da nossa vida e, concomitantemente, do que está para trás, da nossa história, de nostálgicas «[n]oites de rosas e vinho».
Esta jornada – a de Palma, mas não só: nossa também –, acaba com «Canção de vida», homenagem sentida a Carlos do Carmo.
Emocionante, relembra-nos da efemeridade da vida; «nascemos tão furiosamente sábios / dispensamos a razão / corremos com um sorriso nos lábios»; «crescemos descortinando o nosso fado / desvendando a nossa voz / mantemos bem-acondicionado / o fugitivo que há em nós»; enfim, «mais tarde valorizamos a inocência / e o de que ela resta em nós / mais tarde temos plena consciência / de que afinal é sempre a sós».
Jorge Palma constrói uma belíssima síntese daquilo que nos é comum a todos num disco magistral e sólido.
CANÇÕES PREDILETAS: «Vida»; «Uma estação no inferno»; «Estróina»; «Canção de vida».
CLASSIFICAÇÃO: MUITO BOM
«é, sem sombra de dúvidas, uma referência – indubitavelmente, situa-se nos píncaros do seu género, e proporcionará uma experiência estonteante e elegante aos seus apreciadores»
João Vilas Boas, Redator do Departamento Cultural
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