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Foto do escritorJosé Miguel Barbosa

Videodrome (1983), ou como eu aprendi a ter medo da TV

Este filme junta terror e ficção científica, e é o primeiro grande projecto de David Cronenberg ou, pelo menos, o primeiro a ser produzido por um grande estúdio de Hollywood. A narrativa é focada num director de programação de um pequeno canal de televisão que transmite vídeos snuff para agradar aos fetiches obscuros do espectador cada vez menos impressionado pelos canais generalistas. Este conteúdo violento e sexual, que muitos dizem ser excessivamente agressivo, e aos quais a sua namorada fica obcecada, leva Max a investigar a sua misteriosa origem: se são meramente entretenimento simulado ou se escondem, em si, algo de assustadoramente real.


«A televisão é a retina do olho da mente».


A obra é enquadrada, tematicamente, na cultura de massificação dos media, que teve especial expressão na segunda metade do século XX. Este fenómeno é concretamente explorado na crescente ênfase do consumo de informação e entretenimento mediático nos Estados Unidos da América da época. Com efeito, é usado como pano de fundo o cenário metropolitano americano dos anos oitenta, à qual muitos apontam ser um marco decisivo na conformação da sociedade de consumo.


Ao longo do filme, há lugar a uma constante diluição de fronteiras entre o 2D (televisão) e o 3D (mundo real), que faz entrever que o ecrã não é só parte da realidade, mas, mais do que isso: integra a sua própria dimensão constitutiva, isto é, tem o poder de a gerar. Os conteúdos transmitidos pelos ecrãs moldam não só a narrativa fílmica, bem como toda a consciência, os desejos mais íntimos, os aspectos fisiológicos da pessoa e, em última análise, o próprio ser. As frequentes alucinações e passagens oníricas do tecno-surrealismo de Cronenberg traduzem a ideia de que a realidade alternativa do ecrã se funde, constantemente, com a realidade física. A reprodução em larga escala da imagem criada é, ela mesma, susceptível de criar!


Assim, a produção de instâncias subjectivas presentes nas filmagens de violência erógena encontra-se objectivada como padrão social na sua reprodução massificada. É, por isso, deixado um aviso: o conteúdo produzido penetra constantemente o mundo real e, na sua reprodução em larga escala, pode determiná-lo. Daqui é retirada a mais importante reflexão: de que maneira deverá a sociedade aplicar critérios ao consumo de conteúdos mediáticos em massa que vão, de certa forma, moldá-la?


José Miguel Barbosa Departamento Cultural

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