Há duas semanas, vi o primeiro debate presidencial para as Eleições a decorrer no próximo mês, nos Estados Unidos da América.
Desde o ano passado que temos vindo a falar destas eleições que, apesar de serem do outro lado do mundo (ou, noutra perspetiva, em linha reta para o Ocidente, de onde nos localizamos), têm influência no resto do globo, nem que seja porque ansiamos por um Presidente americano com dotes diplomáticos novamente.
(Outros aspetos menos positivos, como seja o imperialismo inerente a este grande país, bem como o seu síndrome de super-herói slash polícia do mundo, não são, no entanto, melhorados pelas hipóteses que se disponibilizam.)
Desde esse maldito dia que a minha página inicial do YouTube é feita de vídeos de momentos “polémicos” dos debates de 2016 e de vídeos de 1 hora e meia que contemplam a transmissão dos mesmos. Na altura, vi-os; mas, em 2016, a política americana só me interessava para a partilha de memes, não fosse aquele empresário cor-de-laranja algum dia chegar sequer perto de ganhar as eleições presidenciais.
No meio dessas sugestões, deparo-me com um debate para as Eleições presidenciais de 2012.
Não é que, um dia, foi possível debater política nos EUA sem se recorrer a insultos escritos por uma criança de 12 anos?
Independentemente da qualidade do serviço público que cada uma das partes, participantes nos debates de 2012, 2016 ou 2020, traz ao país (e não sou eu ninguém para o julgar de antemão, além dos breves comentários sobre a sua política externa desastrosa, que é um requisito, com certeza, para passar das Primárias), é curioso analisar o fenómeno que existiu entre as últimas eleições pelas quais Barack Obama concorreu e as primeiras eleições em que Donald Trump se candidatou.
E não digo que a culpa seja de Trump, isto é uma comparação de posturas de um e de outro candidatos! Todos sabemos que Trump é um boneco inteligentíssimo (em estratégia) que dá a cara por Mike Pence, o diabinho no seu ombro. Certo? Sabemo-lo, embora duvidemos por vezes.
De qualquer forma, a mensagem é clara: convido todos os leitores a assistir a minutos dos debates dos dois distintos momentos eleitorais.
Sou-vos honesta: não irei resmungar muito com os insultos, porque isso seria um pouco hipócrita vindo de uma portuguesa que viu os debates presidenciais nas últimas eleições para tal, em que o Presidente dos beijinhos e abraços discutia com o rival, apelidando-o de ter “uma história de vazio”. (Só para recordar, estamos a falar de Sampaio da Nóvoa.)
Além disso, todos gostamos de quando a casa pega fogo, e à medida que o tempo avança, com ele avança a nossa necessidade bruta de dramatismo - uma possível explicação para o que correu mal desde o início da década.
Este violento shift na forma como candidatos políticos se apresentam, optando por polémicas antes de conteúdo, não é um problema dos EUA. É um problema que transcende a política, tendo até começado pela comunicação - um político sabe que, se não encaixar no seu discurso uma frase ridícula, que sirva de título (e até clickbait) em alguns jornais, não será sequer headline de nenhum artigo (temos um sujeito bem marcante em Portugal nos últimos 2 anos).
Da mesma forma que a comunicação sabe que, sem esses soundbites (que Biden bem aproveitou neste último debate), não tem como destacar a sua notícia.
O mundo uniu-se para ser sensacionalista.
Ver debates como os dois disputados por Donald Trump e Joe Biden nestas eleições dá-nos esperança pela sensatez dos americanos, quando ouvem as barbaridades que um diz; e dá-nos medo, por saber que vários as adoram, e por termos visto o que aconteceu em 2016.
Por fim, lamentar a todos os americanos por ter sido esta a última oportunidade, provavelmente, de verem Bernie Sanders numa corrida eleitoral. E zelar para que, um dia, alguém se lembre de tentar reformular o péssimo sistema eleitoral daquele gigante país.
Senhores, não sei como é que aqui chegámos. Não sei como é que eles lá chegaram. E mais não podemos dizer, sabendo já que aí vem um janeiro tempestuoso.
Matilde Costa Alves
Vice-diretora do Jornal Tribuna
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