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Foto do escritorMatilde Costa Alves

Já passou a hora de falarmos dos anúncios de estreia da CNN Portugal

Adquirida pela Media Capital e configurando apenas uma “TVI24 2.0”, a CNN Portugal não chegou a bons olhos para muitos espectadores das caras do costume na televisão e formatos de informação da grande empresa de entretenimento, nem de críticos que esperavam ver… bem, uma CNN.

Há mais de 15 dias que vemos espalhados anúncios, pelas ruas e pelos espaços fechados, que anteveem – anteviram – a estreia da marca CNN com uma imagem portuguesa, no canal 7.

Já passou a hora de falarmos dos anúncios problemáticos que anteciparam a estreia da CNN Portugal.


De acordo com o Meios e Publicidade, citando Manuel Simões de Almeida (Diretor de Marketing na Media Capital), a campanha que anunciou a estreia do canal seria “provavelmente” a “mais ousada, corajosa e disruptiva” no “lançamento de qualquer meio de comunicação em Portugal”. Garantida pela agência Partners, terá sido apelidada pelo mesmo como “uma campanha baseada em vários temas, ao todo mais de 40, que permitem espelhar os valores e os atributos da marca CNN”, e onde foi dedicada “especial atenção à pluralidade de temas”, como “a influência, o rigor e a dedicação”.

Pausa.

Por um lado, é demasiado corajoso, de facto, afirmar que há ousadia num cartaz onde aparece a personagem política do costume (enfim, o Costa ou o Rio, o Marcelo), com o formato que, sendo meme, foi ultrapassado, do breaking news cnn-niático, e a legenda “O confronto em todas as frentes”. Por outro lado, é definitivamente disruptivo, para qualquer pessoa que não está no Twitter diariamente, ver o Aventureiro e uma menção à rede social com a palavra “contraditório” e sem muito mais.

Para quem frequenta o Twitter, no entanto, a estratégia de Marketing torna-se bastante simples: é o soundbyte do momento.

A campanha publicitária da CNN Portugal e o Kendall Roy da temporada 3 de Succession existem em universos paralelos com um único objetivo, que é espalhar frases polémicas (às vezes apenas expressões) que os jovens politicamente envolvidos utilizam em nichos (cada vez menos nichos, confessemos) da Internet. E depois é esperar que a interpretação faça com que tenha algum sentido.

A segunda grande falha (ficou claro que os últimos parágrafos exploram a primeira) é a coordenação entre estes cartazes, onde caras políticas e linguagem do online se cruzam, e a estratégia seguinte: o bombardeamento de mais caras políticas e de caras televisivas, com testemunhos que antecipam o que o canal é e fará. A própria existência desses testemunhos condena o seu futuro, não? Como a Joana dizia: “Entre as cerca de 4000 candidaturas que recebeu, a CNN apenas encontrou espaço para os mesmos do costume: deputados, políticos, advogados, conselheiros de Estado e administradores não executivos de grandes multinacionais. Maioritariamente homens (brancos, diga-se) na meia idade” [leiam no Tribuna, aqui]. Ora, o que é que podia ser mais ousado, corajoso, disruptivo, influenciador do que isto? A resposta correta é... qualquer outra coisa.

Não obstante a contradição sentida durante os meses, as semanas, que anteciparam a estreia do canal, quando esperámos uma evolução no jornalismo e na informação em Portugal e nos foi dado um mero rebranding de um canal de informação aliado à TVI, falemos agora de assuntos sérios.

Permitam-me que ilustre: a imagem, capturada num cenário de guerra, e na legenda, lê-se “a coragem no Facebook”. Pergunto-me como é que ninguém, ao ver este projeto final, hesitou em publicá-lo ou pensou em escolher uma imagem distinta, já que a menção ao Facebook era necessária para completar o trio das redes sociais que, como qualquer outro órgão de comunicação social, precisam de captar (e isto é negócio, não dá para condenar, não fossem vocês estar a ler este artigo vindos do Facebook ou do Instagram ou do Twitter).

Quando olho para este cartaz, tenho a sensação demasiado forte e previsível de que a CNN Portugal estará a competir diretamente com o sensacionalismo de outros OCS, e não se comprometerá ao rigor (informativo), mas à perigosa estratégia que vários em Portugal sentem ser um dado adquirido para terem visualizações e pessoas a ler os seus artigos.

Se, enquanto seres humanos, não nos repudia ver a exploração das pessoas presentes nesta fotografia, sob palavras vazias, então talvez a CNN Portugal não esteja longe do seu objetivo. De qualquer forma: não é preciso coragem mas noção para evitar fazer determinados comentários no Facebook ou determinadas opções de Marketing como esta.

Como é óbvio, estamos todos mais do que cientes de que o conteúdo dotado de especial sensacionalismo ou alarmismo é mais rapidamente consumido e, desse ponto de vista, a campanha publicitária foi eficaz. Mas essa eficácia é a curto prazo: os espectadores não ficarão e os valores que anunciavam fazer parte da marca serão ignorados.

Se a CNN Portugal tem potencial para ser uma fonte de informação credível, entre os OCS com mais e melhores meios (financeiros e técnicos) para tal? Tem, quer dizer, quem sou eu para o dizer…? Veremos de que forma os explorará. Para já, fica a desilusão e o começo absurdo em que nos apresentaram um exclusivo com o João Rendeiro como se ele fosse o Edward Snowden da praia lusitana.


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